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Pesquisa aponta para crise hídrica no Brasil e agro é setor mais impactado

Pesquisa aponta para crise hídrica no Brasil e agro é setor mais impactadoAgro é setor mais vulnerável às mudanças climáticas. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

81% dos brasileiros estão muito preocupados com a escassez de água potável, percentual bem acima da média mundial, de 58%. Não é para menos. Segundo especialistas, o crescente desmatamento e o risco de mudança no regime de chuvas já evidenciam que o Brasil está a caminho da insegurança hídrica. Para o agronegócio, isso pode significar perdas de 26% para os produtores de soja e de até 32% na produtividade de pastagens até a metade  do século.

Foi o que explicou ao Gigante 163 a especialista em conservação do WWF-Brasil, Helga Correa, ao comentar os dados de  pesquisa realizada pela GlobeScan, Circle of Blue e WWF Internacional. O estudo, divulgado às vésperas do Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, mostra que apenas 15% dos entrevistados no Brasil declaram não serem afetados pela falta de água potável, enquanto 40% informaram já terem sido prejudicados por secas.

De acordo com Helga, ao  mesmo tempo em que o setor agropecuário tem grande responsabilidade na construção deste cenário,  é também um dos mais vulneráveis às suas consequências, já que depende diretamente de uma boa gestão do solo, da água e do clima. Diante de um desequilíbrio entre estes fatores, ela fala sobre os prejuízos que deverão impactar o setor.

“Isso acontece porque algumas áreas vão deixar de produzir,  seja pelo aumento de temperatura ou seja pela falta ou excesso de água, já que  um dos efeitos das mudanças climáticas é justamente a ocorrência mais frequente desses extremos. A mudança sistemática do regime de chuvas também impede ou compromete a safrinha  em muitos locais”, diz.

Helga defende medidas urgentes de conservação ambiental para garantir a segurança hídrica necessária para o agronegócio, as indústrias, o abastecimento de residências e para a segurança energética do Brasil.

“Precisamos acabar com o desmatamento em todos os biomas e restaurar áreas degradadas. No restante do País, salvaguardas previstas no Código Florestal, tais como a exigência da preservação de topos de rio e matas ciliares. É preciso respeitar a importância dessas áreas para que os serviços que os ecossistemas fazem ocorram e permitam que a gente tenha água localmente e que esses sistemas contribuem pro controle das mudanças climáticas.”

Cenário mato-grossense

Em Mato Grosso, a análise dos dados mais recentes do MapBiomas sobre a superfície de água no País, reforçam os alertas. Conforme noticiado pelo Gigante 163, o Estado vai na contramão do ganho de superfície de água registrado no restante do Brasil em 2022, com perda de -48%. Embora os três biomas locais tenham apresentado incremento no período, ao se comparar a série histórica, iniciada em 1985, o resultado é ruim.

Para exemplificar, em 2022 a superfície de água anual do Pantanal aumentou pela primeira vez desde 2018. Entretanto, o bioma ainda passa por um período seco, com diferença de 60,1% nas últimas quatro décadas.

“Se a gente fizer um recorte para o Pantanal brasileiro, esta talvez seja uma das regiões mais dramáticas. A gente percebe o aumento da presença da atividade agropecuária, que  subiu mais de 12% na ocupação territorial do bioma.  Isso aconteceu simultaneamente com a ocorrência da perda de superfície de água. O Pantanal atualmente é um dos das regiões brasileiras que apresenta maior tendência na redução da superfície de água e que chega a estimativas”, pontua Helga.

Crise hídrica

Conforme a pesquisa, que reuniu 30 mil entrevistados em 17 países, 84% dos brasileiros estão muito preocupados com a poluição dos rios no Brasil. Além disso, a preocupação com a escassez de água potável passou de 49% em 2014 para 61% em 2022 em todo o mundo. Em termos geográficos e sociais, a publicação demonstra que, embora o aís detenha 12% de toda a água doce do planeta, a distribuição por aqui é bastante desigual.

De acordo com Helga, na Amazônia está a maior parte da água doce do Brasil e, ao mesmo tempo, os menores percentuais de acesso a serviços de água potável e esgoto. Além disso, no Cerrado, onde nascem oito das 12 principais bacias hidrográficas do País, metade das áreas naturais já foram convertidas em lavoura ou pasto.

“O crescente desmatamento coloca em risco o regime de chuvas que abastece lençóis freáticos no centro sul. Em todo o Brasil, vemos a superfície de água dos rios diminuindo. Ou seja, já temos evidências suficientes de que o País está a caminho da insegurança hídrica. No caso específico do Cerrado e também do Pantanal, que está secando a olhos vistos, é urgente que a ocupação do bioma respeite um ordenamento ambiental que preserva nascentes“, conclui.

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