Por André Garcia
Na reta final da Semana do Meio Ambiente, o Gigante 163 mostra que é possível produzir em qualquer escala e conservar a natureza ao mesmo tempo. Da agricultura familiar a grandes fazendas, soluções como bioinsumos, manejo de solo e integração lavoura-pecuária-floresta já permitem aumentar a produtividade sem ampliar a área plantada.
À reportagem, o pesquisador da Embrapa Giampaollo Pellegrino explicou que essas técnicas não se restringem a grandes investimentos ou tecnologias inacessíveis.
“A lógica de melhorar a condição do solo, de usar mais matéria orgânica e até de avançar para uma agricultura menos dependente de combustíveis fósseis pode ser adotada em qualquer escala. É claro que precisa de técnica, toda uma mudança até no sistema de produção. Mas mesmo na agricultura convencional, a transição já está em curso”, disse.
Segundo a Embrapa Territorial, 25% da vegetação nativa preservada no país encontra-se dentro de propriedades rurais, o que reforça o posicionamento de Giampaollo.
“A ideia da Revolução Verde, baseada exclusivamente em mecanização e insumos industriais, já começa a ser superada em muitos contextos”, explicou o pesquisador.
Potência na agricultura familiar
Na Fazenda Eloá, em Taquaral de Goiás, a produtividade leiteira saltou de 11 para 17 litros por animal por dia em apenas um ano. A propriedade é assistida pela Emater e investiu na melhoria das pastagens, na ordenha mecânica e em estratégias de manejo sustentável com uso reduzido de insumos externos.
A agricultura familiar está mais próxima da agroecologia e de um manejo do solo mais cuidadoso. Isso permite maior controle das técnicas em um espaço menor. O resultado foi duplo: além do salto na produtividade, a família viu o custo da produção cair, com o uso de adubação própria e maior controle sobre o pasto.
“A nossa meta agora é começar a trabalhar com o processamento do leite para ampliar a oferta de produtos, além de agregar valor ao alimento”, conta o produtor Valdinei, que também acessou políticas públicas como o Crédito Rural e o programa Agro é Social.
Agroecologia em grande escala
Se por um lado a agricultura familiar pode apresentar mais condições de, em um espaço menor, fazer o controle do solo e diversificar a produção, nas grandes fazendas, as estratégias avançam a partir de planejamento técnico, redução do uso de insumos industriais e maior conexão com o meio ambiente.
Nos últimos anos, produtores de grande porte também têm recorrido a soluções como o uso de bioinsumos, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e a cobertura do solo para enfrentar o aumento das temperaturas e a escassez hídrica. Essas medidas permitem produzir mais sem desmatar.
No município de Nova Mutum (MT), o produtor Wagner Scharf é um exemplo disso. Ele aplica técnicas de regeneração do solo e integração lavoura-pecuária com foco na conservação e cultiva três safras por ano, consorciadas com braquiária, mantendo 40% da área da propriedade totalmente preservada.
“Introduzimos há sete anos o consórcio total com braquiária. Procuramos regenerar áreas degradadas de pastagem, fortalecer a biodiversidade do solo e preservar 100% de nossas nascentes, porque sem água não há produção”, reforçou.
Wagner também recolhe embalagens de defensivos agrícolas e as destina à logística reversa, por meio do Sistema Campo Limpo, mostrando que práticas ambientais podem ser integradas mesmo em contextos de uso intensivo de tecnologia.
Adaptação em tempos extremos
Além da produtividade, está em jogo a segurança alimentar, uma vez que o acesso contínuo e estável ao alimento depende da resiliência das cadeias agropecuárias. Com a mudança do clima, que impacta o modelo de desenvolvimento como um todo, a adaptação é uma questão econômica e estratégica para o país.
“Esse é um fenômeno gradativo. Já estamos sentindo os efeitos: secas severas no Sul e no Centro-Oeste, quebra de produtividade, aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos. A agricultura, que é totalmente dependente do clima, já lida com essas condições adversas”, concluiu Pellegrino.
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