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Minoria do agro lidera desmate no Brasil, diz estudo

Minoria do agro lidera desmate no Brasil, diz estudoTecnologia ajuda a produzir mais sem abrir novas áreas. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Em 2024, menos de 1% das propriedades rurais cadastradas no País foram responsáveis por 81,4% dos alertas de derrubada de vegetação nativa, segundo o Relatório Anual do Desmatamento (RAD) do MapBiomas. Isso significa que um grupo restrito de imóveis concentra a devastação, enquanto a maioria dos produtores avança com práticas de manejo que permitem produzir mais sem abrir novas áreas.

Para Luiz Pedro Bier, produtor em Gaúcha do Norte, os dados reforçam a importância do engajamento do agronegócio na conservação ambiental — uma consciência que, segundo ele, está cada vez mais presente na cultura do setor, que busca aumentar a eficiência da produção com menor impacto.

“A agricultura de precisão e o plantio direto são exemplos claros de como é possível produzir mais e conservar ao mesmo tempo. Quando o solo é bem manejado e os insumos são utilizados da forma correta, o resultado é ganho ambiental e produtivo. Isso tem se tornado parte da cultura de quem vive da terra”, explicou ao Gigante 163.

Segundo o MapBiomas, apenas 0,8% dos imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) apresentaram desmatamento validado em 2024. Mesmo assim, esse grupo respondeu por 88,7% da área desmatada e por mais de 80% dos alertas emitidos no país. O relatório também aponta que 46,3% dos imóveis que desmataram no último ano já haviam sido responsáveis por desmatamento em anos anteriores.

Imagem internacional e crédito rural

Bier, que é vice-presidente da Associação Mato-Grossense de Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MT), destaca que produzir com responsabilidade ambiental também reforça a imagem do agro brasileiro diante do mercado externo, cada vez mais atento a exigências socioambientais.

“O produtor tem um papel fundamental na preservação ambiental. Ele entende que conservar os recursos naturais não é só uma responsabilidade, mas também uma necessidade para garantir a continuidade da própria atividade. Além de proteger a natureza, isso fortalece a imagem do Brasil no cenário internacional. O mundo está de olho em como produzimos, e temos mostrado que é possível fazer diferente”, afirmou.

Vale destacar que, desde 2022, bancos públicos e privados passaram a incorporar dados de desmatamento na análise para concessão de crédito rural. A medida foi expandida nos últimos anos e hoje abrange a maioria dos grandes bancos que operam com o setor. O cruzamento das informações pode restringir o acesso ao crédito para imóveis com passivo ambiental.

Um bom exemplo de como o setor vem se adaptando a essa realidade é o crescente uso de biofertilizantes, biofungicidas e bioinseticidas, já incorporados às rotinas de muitas fazendas.

“O Brasil, inclusive, é líder mundial no uso de produtos biológicos na agricultura. Isso mostra que estamos atentos às exigências ambientais e às oportunidades de melhorar a saúde do solo e das plantas. Essas tecnologias representam uma transição inteligente: menos impacto, mais eficiência e ganhos para todos”, destaca Bier.

Desmatamento concentrado

Em todo o país, 97% da vegetação suprimida teve como vetor a agropecuária. Os dados do RAD reforçam um desafio central: o desmatamento segue concentrado, reincidente e fortemente associado ao setor agropecuário. Ou seja, além de ampliar as boas práticas no campo — já em curso em diversas regiões — é preciso responsabilizar os maiores causadores da devastação e impedir que continuem manchando o setor.

De 2019 a 2024, o Brasil perdeu 9,88 milhões de hectares de vegetação nativa, sendo 82,9% concentrados na Amazônia e no Cerrado. A região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentrou 75% do desmatamento no Cerrado em 2024 e, pelo segundo ano consecutivo, superou a Amazônia em área devastada. Já no Pantanal, a concentração do desmatamento em áreas privadas é ainda mais evidente.

“99% também do desmatamento é em propriedade particular, são em áreas privadas, né, registradas no Cadastro Ambiental Rural, né, então 99% dessas áreas desmatadas estão nessas propriedades particulares”, explicou Eduardo Rosa, representante técnico do MapBiomas para o bioma.

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