Por André Garcia
O Brasil perdeu, em média, 2,9 milhões de hectares de áreas naturais por ano entre 1985 e 2024. Isso significa que, ano após ano, 111,7 milhões de hectares florestas, savanas, campos e áreas alagadas foram dando lugar a pastagens, lavouras, cidades, infraestrutura e mineração.
Os dados fazem parte da Coleção 10 do MapBiomas, lançada nesta quarta-feira, 13/8 e mostram que 13% do território nacional foi convertida em quatro décadas, o que representa mais que toda a área da Bolívia, por exemplo.
“Até 1985, ao longo de quase cinco séculos de expansão da fronteira agrícola, o Brasil converteu 60% de toda a área hoje ocupada pela agropecuária, mineração, cidades, infraestrutura e outras áreas antrópicas. Já os 40% restantes dessa conversão ocorreram em apenas quatro décadas”, resume o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo.
No Centro-Oeste, a pressão sobre a vegetação nativa combina a abertura de áreas no Cerrado, a ocupação de zonas de transição com a Amazônia e a conversão de áreas úmidas no Pantanal. É a única região do país que abriga porções significativas desses três biomas, todos com alto valor ambiental e forte aptidão para a agropecuária.
O recorte por estados traz Mato Grosso na 10ª posição nacional em proporção de vegetação nativa, com 66% em 2024, uma queda de 19 pontos percentuais em relação a 1985. No Mato Grosso do Sul, a cobertura caiu de 66% para 52% no mesmo período, e em Goiás, o índice foi de 48% para 40%.
Perdas por bioma
A Amazônia perdeu 52,1 milhões de hectares de áreas naturais nos últimos 40 anos, o equivalente a 13% do bioma. O maior aumento de áreas antrópicas, ou seja, aquela alteradas pela ação humana, ocorreu entre 1995 e 2004, com 21,1 milhões de hectares, mais do que o total desmatado até 1985 (13 milhões de hectares).
No Cerrado, 40,5 milhões de hectares de vegetação nativa foram suprimidos entre 1985 e 2024, o que representa 28% do bioma. Entre 2005 e 2014, a região do MATOPIBA, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentrou 80% do desmatamento para agricultura.
Já o Pantanal perdeu 1,7 milhão de hectares de áreas naturais (vegetação nativa e corpos d’água convertidos para uso antrópico) no período, o que equivale a 12% do bioma. Além disso, a superfície de água, que representava 24% da área em 1985, caiu para apenas 3% em 2024.
Um Brasil mais seco
O MapBiomas mapeia diversas categorias de áreas úmidas nos biomas: Floresta Alagável, Campo Alagado, Área Pantanosa, Apicum e Mangue. Juntas, elas ocupavam 84 milhões de hectares, ou quase 10% do território nacional em 1985; em 2024, eram 74 milhões de hectares (8,8% do Brasil).
De acordo com o levantamento, todos os biomas perderam superfície de água nos últimos 40 anos, com exceção da Mata Atlântica, por conta da criação de reservatórios e hidrelétricas que expandiram a superfície de água principalmente a partir dos anos 2000.
As reduções mais drásticas foram observadas no Pantanal, que em 2024 apresentou uma superfície de água 73% abaixo da média registrada entre 1985 e 2024. A água, que em 1985 cobria 24% do bioma, recuou para apenas 3% no ano passado, resultado da diminuição das cheias e aumento dos períodos de estiagem
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