Por André Garcia
O Centro-Oeste deu passos decisivos para entrar no mercado internacional de carbono, durante a COP30. Goiás e Mato Grosso do Sul foram reconhecidos pela Conaredd+ como elegíveis para acessar pagamentos por resultados de REDD+, enquanto Mato Grosso assinou carta de intenções com a Coalizão LEAF para estruturar a venda de créditos.
Em alta ao longo de toda a Conferência, encerrada na última semana, o tema mostra um contexto favorável para o Brasil, que criou recentemente o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) e liderou o debate sobre a Coalizão Aberta de Mercados Regulados de Carbono, que já conta com a adesão de 19 países, incluindo a China.
Ótimo momento para que a Conaredd+ habilitasse Mato Grosso do Sul e Goiás para capturarem recursos vinculados à redução de emissões no Cerrado. O movimento confirma que ambos os estados vêm atendendo aos requisitos técnicos, jurídicos e de governança exigidos pelo órgão, responsável pelas políticas REDD+ no Brasil.
Em Goiás, o avanço se apoia, por exemplo, na redução de 73% da área queimada e ampliou em mais de mil por cento as ações de fiscalização, alcançando praticamente todos os alertas de desmatamento. Diversas iniciativas locais foram apontadas como exemplos de políticas de geração de créditos com lastro ambiental.
Com foco está na estruturação de mercado, a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Semadesc) lançará, em janeiro de 2026, um edital de chamamento público para organizar o desenvolvimento, a verificação e a comercialização das reduções de emissões na região.
“Estamos falando de um estoque relevante que agora poderá passar pelos processos de verificação, certificação e posterior comercialização. O próximo passo é justamente estruturar esse pipeline junto ao mercado, sempre com transparência e repartição de benefícios”, avaliou o secretário adjunto Artur Falcette.
MT avança na venda de créditos de alta integridade
Seguindo por um caminho complementar, o governo de Mato Grosso assinou carta de intenções assinada com a Coalizão LEAF – iniciativa internacional que reúne governos e grandes corporações interessadas em comprar créditos de carbono de alta integridade.
Como parte do acordo, o Estado se compromete a implementar as estruturas necessárias para a futura comercialização de suas reduções de emissões e a conduzir processos transparentes de consulta, às partes interessadas, para desenvolver mecanismos equitativos de compartilhamento de benefícios.
“O financiamento de qualquer acordo futuro com a LEAF chegará às comunidades na linha de frente da luta contra a perda florestal e também ajudará a financiar o desenvolvimento de cadeias de suprimentos de commodities livres de desmatamento e conversão”, afirmou a secretária de Estado de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti.
Alto potencial
Mercados de carbono funcionam como sistemas em que governos ou instituições autorizam a compra e venda de créditos que representam o direito de emitir determinada quantidade de CO₂. Na prática, iniciativas que removem ou evitam emissões, como projetos de reflorestamento, podem comercializar créditos para setores que ainda têm dificuldade de reduzir suas próprias emissões, como a indústria pesada.
Um estudo do Earth Innovation Institute aponta que os estados da Amazônia Legal podem arrecadar em média 1,4 bilhão de dólares por ano com a venda de créditos, caso adotem o modelo de REDD+ jurisdicional. O sistema remunera reduções comprovadas de emissões provenientes do desmatamento e da degradação florestal, criando uma fonte de receita diretamente vinculada aos resultados de conservação.
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