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Artigo: Adubação de sistemas: entenda definitivamente o que é e sua real aplicação

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Nesta semana, trouxemos um assunto que tem nos empolgado bastante por aqui – soluções de adubação que sejam mais econômicas e sustentáveis. 

Para nos ajudar a trabalhar em um futuro sustentável para o agro, chamamos Dr. Luiz Gustavo O. Denardin, engenheiro agrônomo, especialista em ciência do solo, pesquisador, Head de educação na Agrobravo e Product Owner na StartSe. Este é o terceiro artigo do Dr. Luiz em nosso site, então já é parceiro mesmo do Gigante! 

Encontre outras matérias de convidados aqui, e aproveite o artigo do Dr. Luiz abaixo. 

O avanço da agricultura nos últimos anos tem sido embasado, não só no aumento da produtividade dos cultivos, mas também na eficiência de utilização dos recursos, como água, solo e insumos. Cada vez mais têm sido buscados sistemas produtivos mais rentáveis economicamente e eficazes na utilização dos fertilizantes, já que esses representam, em geral, a maior porcentagem no custo de produção. Dessa forma, um dos grandes desafios da pesquisa em fertilidade do solo e nutrição de plantas tem sido avançar buscando medidas que otimizem a eficiência e uso de nutrientes, reduzindo os custos de produção e causando menor impacto ambiental.

Já falamos por aqui em matérias anteriores, sobre a importância dos sistemas integrados de produção agropecuária (SIPA), ou integração lavoura-pecuária (ILP) em promover a intensificação da produção de alimentos de forma sustentável no Cerrado brasileiro. Esses sistemas são naturalmente mais eficientes, quando comparados a sistemas puramente agrícolas, por potencializarem a ciclagem de nutrientes e intensificarem a produção de alimentos por unidade de insumo (por exemplo, fertilizante) utilizado. No entanto, estudos recentes têm avaliado alternativas para aumentar ainda mais a eficiência desses sistemas de produção: a “Adubação de sistemas”.

Nesses sistemas de produção, geralmente contamos com uma fase lavoura e outra fase pastagem. O que os diferencia dos demais é o fato do animal em pastejo atuar como (re)ciclador de nutrientes, exportando na carne apenas uma mínima quantidade (~ 5%) dos nutrientes ingeridos durante o processo de pastejo, retornando a maioria para o solo via fezes e urina. Esses nutrientes podem ser reaproveitados posteriormente para a cultura da fase lavoura em sucessão. Isso faz com que, muitas vezes, a lavoura em sucessão acabe não respondendo à adubação, apresentando consumo de luxo (quando a planta absorve nutrientes, mas não reflete em aumento de produtividade).

Com base nesses conceitos, a filosofia da “adubação de sistemas” em SIPA consiste no posicionamento da adubação na fase da cultura que presenta maior resposta à adubação e menor exportação de nutrientes. Vale salientar que existem algumas condições para implementação dessa metodologia de adubação, como: (i) a condução do sistema em plantio direto; (ii) a correção da fertilidade química do solo, com calagem e adubação até obtenção dos níveis críticos; (iii) uma abundância de resíduos vegetais, servindo como fonte de nutrientes para o cultivo em sucessão e (iv) a inserção do animal no sistema, que irá diversificar os resíduos e potencializar a reciclagem de nutrientes.

Alguns estudos científicos já validaram a antecipação da adubação com fósforo e potássio (P e K), que seria feita na semeadura da soja no verão, para a fase pastagem, no inverno, favorecendo o aumento da produção de forragem os ganhos com a pecuária. Isso permite a otimização do uso de fertilizantes, com retorno econômico, tanto com a eficiência de uso de fertilizantes, quanto no aumento da produção de carne, sem reduzir a produtividade de grãos. Além desses resultados, a “adubação de sistemas” pode impactar no aumento do rendimento operacional durante a semeadura da fase lavoura, e explorar melhores preços de fertilizantes durante um período de menor demanda no mercado.

Até o momento, as principais pesquisas têm validado essa metodologia com adubação fosfatada e potássica, por terem sua dinâmica de disponibilidade mais associada à fração mineral do solo. Nesses casos, a dose da adubação consiste na quantidade total de nutrientes exportados no sistema produtivo, e pode ser considerado tanto a expectativa de resposta, quanto a reposição dos nutrientes considerando a última safra (adubação de reposição).

Apesar dos estudos citados acima terem sido realizados na região sul do Brasil, existem estudos de longo prazo, realizados a campo, em Rondonópolis/MT, que estão apresentando resultados semelhantes, viabilizando essa metodologia de adubação também para o Centro-Oeste brasileiro. Além disso, alguns estudos ainda estão sendo realizados para validar a “adubação de sistemas” com adubação nitrogenada. No entanto, o nitrogênio é um nutriente que tem sua dinâmica de disponibilidade praticamente determinada pela fração orgânica do solo, e por isso o teor de matéria orgânica e a atividade biológica no solo são ainda mais importantes, necessitando de mais estudos para validar essa tecnologia de processos.

Fontes:

– Alves, L. A., Denardin, L. G. D. O., Farias, G. D., Flores, J. P. M., Filippi, D., Bremm, C., Tiecher, T. Fertilization strategies and liming in no-till integrated crop–livestock systems: effects on phosphorus and potassium use efficiency. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 46, 2022.

– Denardin, L. G. O. et al. Soybean yield does not rely on mineral fertilizer in rotation with flooded rice under a no-till integrated crop-livestock system. Agronomy, v. 10, n. 9, p. 1371, 2020.

– Farias, G. D. et al. Integrated crop-livestock system with system fertilization approach improves food production and resource-use efficiency in agricultural lands. Agronomy for Sustainable Development, v. 40, n. 6, p. 1-9, 2020.