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Artigo: As várias profissões do produtor rural e sua resiliência

Artigo: As várias profissões do produtor rural e sua resiliência

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O Gigante 163 convidou diversos especialistas, produtores e influenciadores para colaborar com conteúdos que interessam os nossos leitores – profissionais do agronegócio. Referência em produção rural no Estado de Mato Grosso, Bruna Beteli faz uma reflexão do que é ser produtora rural, e suas várias “profissões”. Encontre outras matérias de convidados aqui, e aproveite o artigo da Bruna abaixo. 

Por Bruna Beteli para o Gigante 163. Bruna é engenheira agrônoma e produtora rural

Umas das minhas primeiras descobertas como produtora rural foi: é uma das únicas profissões em que podemos e devemos exercer inúmeras profissões ao mesmo tempo.

A cada ano que passa a agricultura vem se reinventando e para acompanhar esse cenário, o produtor rural precisa se especializar em todas as hastes do negócio. Precisamos ser ótimos administradores e gestores de finanças, é indispensável o conhecimento técnico, é necessário conhecimento sobre as legislações ambientais, devemos ser peritos do mercado financeiro. Entre outras incontáveis destrezas. Ou seja, todo dia ou até mesmo toda hora, devemos ter uma profissão diferente.

Além de todos esses requisitos, descobri que existe outro ponto primordial para o sucesso de uma lavoura: o clima. No ano de 2021 ele não foi nosso aliado e eu pude observar e sentir na pele o quão desafiador isso pode ser.

A colheita da safra de soja 2020/21 se caracterizou por longos períodos chuvosos em várias regiões do Mato Grosso. Segundo dados fornecidos pelo Sindicato Rural da cidade de Sorriso, produtores tiveram percas de 25 a 50% durante a colheita. Outras cidades da região como Campo Novo do Parecis, Lucas do Rio Verde, Sinop, Porto dos Gaúchos, Canarana e São Félix do Araguaia também relataram ocorrência de chuvas intensas em níveis acima do normal, conforme apontado pelo IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).

Esse intenso volume de chuvas trouxe algumas intercorrências para nós, produtores: perdas de qualidade do grão, que resultam em descontos nos armazéns na hora da classificação da soja e atrasos na entrega do produto, a questão da logística e escoamento do grão foi um grande problema.

Por causa do atraso na colheita da soja a safra de milho foi totalmente atingida. Muitos produtores que já estavam com seus insumos na propriedade resolveram arriscar e seguiram com o plantio mesmo fora da janela ideal. Os relatórios de março do IMEA apontaram que os produtores do Mato Grosso haviam plantado apenas 20,90% da safra de milho em fevereiro, comparados com 63,16% no mesmo período do ano passado. Vários produtores aceleraram o plantio e realizaram turnos de madrugada para compensar o atraso.

Como esperado, devido ao plantio realizado fora do período ideal, as produtividades das lavouras de milho foram consideravelmente menores. No último boletim divulgado pelo IMEA pudemos verificar que o Estado de Mato Grosso fechou com média de 92,65 sacas por hectare, valor 15,02% inferior ao observado na safra anterior.

Mal acabou a colheita de milho e já iniciávamos o planejamento para a safra de soja (2021/22.), momento esse que nos deparamos com uma reviravolta no preço dos insumos agrícolas, além de exorbitantes, escassos. O CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil) apontou que os fertilizantes aumentaram 100% entre os meses de janeiro e setembro, como consequência de preços internacionais elevados, alta demanda, escassez da oferta mundial e problemas logísticos.

Somando as intercorrências da colheita da soja nessa safra 2020/21, a redução de produtividade da safra de milho e os insumos elevados, o cenário é preocupante para nós agricultores. Esse próximo ano agrícola será realmente desafiador e mais do que nunca precisaremos utilizar todas as nossas inúmeras profissões para obter sucesso.

Mas outra descoberta que fiz foi: somos ótimos em superar desafios, e se eu pudesse utilizar uma palavra para resumir os produtores rurais seria: RESILIÊNCIA. Continuaremos nos adaptando a todas as intempéries e encontrando soluções para seguir executando nosso papel: alimentar o mundo!