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El Niño severo pode prejudicar produção agrícola e causar inflação

El Niño severo pode prejudicar produção agrícola e causar inflaçãoCondições de seca ou de excesso de chuva podem quebrar safra. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia 

Além de aumentar o risco de uma catástrofe na Amazônia, a ocorrência de um El Niño mais severo pode levar mercados emergentes, como o do Brasil, a um cenário de estagflação, ou seja, estagnação do crescimento econômico com alta do desemprego e inflação. Neste cenário, os preços dos alimentos podem subir mais de 50%.

O fenômeno climático se caracteriza pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico.

Atrelada a potenciais perdas na produção agrícola, desastres ambientais e prejuízos na geração de energia, a estimativa faz parte de um estudo da gestora de investimentos britânica Schroders divulgado no início deste mês e reforça que mudanças nas condições climáticas são uma clara ameaça ao agronegócio.

Isso porque, condições de seca ou de chuva excessiva resultam em quebras de safras. Isso acende um alerta para o Brasil, onde as oscilações no Índice Niño Oceânico (ONI), que mede as mudanças na temperatura da água no Pacífico, se relacionam ao crescimento do PIB, composto por 5% de exportações líquidas de alimentos.

Correlação – PIB do Brasil com ONI

Assim, de acordo com a Schroders, embora a produção agrícola abundante tenha garantido crescimento mais rápido do que o esperado no País durante o primeiro semestre de 2023, a situação pode ser revertida nos próximos meses se as condições do El Niño se intensificarem.

“Alimentando esses números em nossos modelos de inflação, parece que, embora um El Niño moderado não alterasse significativamente as perspectivas para a inflação, qualquer coisa mais grave seria preocupante”, avalia o economista sênior de mercados emergentes da Schroder, David Rees.

Inflação

Neste contexto, as economias emergentes, grandes exportadoras líquidas de alimentos, perderiam receita de exportação caso registrem números de produção piores que os dos aumentos nos preços.

Enquanto isso, os importadores líquidos de alimentos enfrentariam preços mais altos e teriam de escolher entre financiar déficits comerciais ou reduzir importações de outros bens, reduzindo a demanda interna e, portanto, o crescimento geral do PIB. O resultado é o salto na inflação dos alimentos.

“Afinal, os países mais pobres dependem mais fortemente da produção agrícola para o sustento local e o crescimento econômico. Os preços mais altos e a escassez de bens podem ter um impacto devastador nos mercados emergentes mais pobres e até mesmo ser o gatilho para a agitação social”, escreveu David.

Custos com energia

Condições climáticas e expectativas de oferta e demanda não são os únicos fatores a impulsionar os preços. Igualmente importantes para esta conta são os custos de produção, especialmente com energia, que tem a geração ameaçada por incêndios florestais, inundações e deslizamentos causados pelo El Niño.

Em países da América Latina, como Brasil, Colômbia e Venezuela, que dependem fortemente da fonte hidrelétrica, isso pode levar à escassez, elevando os preços e sufocando a atividade. Os preços mais altos da energia refletem diretamente o custo de produção no setor agrícola.

Taxas de juros

Uma inflação alimentar mais alta também deixaria menos espaço para os bancos centrais reduzirem as taxas de juros, frustrando a expectativa de que quedas acentuadas da inflação permitiriam cortes. O governo brasileiro, por exemplo, conta com isso desde o início do ano, quando iniciou campanha contra o índice de 13.75% mantido pelo Banco Central.

“De fato, Brasil, Colômbia e Chile, três economias diretamente impactadas pelo El Niño, devem reduzir as taxas de juros em 350-600 pontos base nos próximos 12 meses – o que significa que eventos relativamente fortes podem ter impacto nos mercados financeiros”, diz trecho do estudo.

Isso porque, ao contrário dos mercados desenvolvidos, onde os legisladores tendem a analisar os efeitos das commodities e se concentrar no núcleo da inflação, os bancos centrais dos países emergentes têm sido historicamente sensíveis aos movimentos da inflação de alimentos.

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