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Mudanças climáticas são grandes desafios para o seguro rural

Mudanças climáticas são grandes desafios para o seguro ruralAdoção de práticas sustentáveis é fundamental. Foto: Aprosoja

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Por André Garcia

Responsáveis por expressivas quebras de safra, as mudanças climáticas causaram queda de 1,7% na produção brasileira no último ano em comparação a 2021. Além do prejuízo, elas também já contribuem para elevar as indenizações do seguro rural, o que reduz a oferta disponível e deixa os produtores rurais com menor cobertura.

Os dados, publicados pela Agência Brasil nesta segunda-feira 17/4, são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e reforçam a informação da Superintendência de Seguros Privados (Susep) de que, no ano agrícola 2021/2022, a forte estiagem levou as indenizações a crescer mais de quatro vezes em relação à safra anterior.

Como adiantado pelo Gigante 163, o setor já vem dando sinais de que a recorrência de prejuízos causados pelo clima traria estes impactos. Para se ter ideia, segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), o segmento pagou mais de R$ 10,5 bilhões em indenizações em 2022, aumento de 47,1% ante o mesmo período de 2021.

Em 2023, a Confederação projeta que o seguro Rural cresça mais 7,3%, projeção que, para o superintendente de Estudos e Projetos, Thiago Ayres, está diretamente relacionada à percepção de risco pelo produto rural.

“Com o aumento constante na ocorrência de eventos climáticos severos, o produtor rural, cada vez mais, tem enxergado o setor de seguros como um forte aliado na saúde financeira do seu negócio”, afirma.

Cobertura

A Agência Brasil também cita o estudo Climate Policy Initiative, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio), que mostra que, embora a cultura da soja tenha se expandido no país, os agricultores estão cada vez mais sujeitos a uma série de riscos climáticos que podem gerar perdas.

De acordo com o levantamento, que mapeia o seguro rural no Brasil com foco na cobertura da oleaginosa, a Região Sul responde por 60% do número de apólices e 43% do valor dos prêmios, apesar de ter produzido apenas 37% da soja entre 2006 e 2018.

Já a Região Centro-Oeste, responsável pela maior parcela de área plantada (45%) e valor produzido (44%), concentrou 20% das apólices de seguro e 34% dos prêmios pagos no mesmo período.

Redução de risco requer investimento

Em um cenário de maior risco, as resseguradoras se tornam mais importantes. A gerente sênior de pesquisa do CPI/PUC-Rio e coordenadora do estudo, Priscila Souza, destaca, por exemplo, que a adoção de práticas modernas e sustentáveis contribuem para a adaptação e a mitigação das mudanças climáticas. O Gigante 163 já elencou diversas delas, como a ILPF e a recuperação de pastagem.

As ações, contudo, requerem investimentos.

“Os produtores precisam de instrumentos financeiros adequados para lidar com os riscos envolvidos. A oferta de seguros deve ser expandida para produtores e regiões com acesso limitado a produtos financeiros e que são mais vulneráveis a eventos climáticos”, explica Priscila.

Ela também defende o estímulo do governo à expansão do seguro rural e sugere que isso seja feito a partir de investimentos no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural, redução do custo de aquisição das apólices, aprimoramento do o Zoneamento Agrícola de Risco Climático e fortalecimento do mercado de resseguros no Brasil.

Identificando causas

Os pesquisadores da PUC investigaram as variáveis climáticas mais relevantes para explicar as perdas na produção de soja. Os resultados indicam que, no Brasil, a produção é afetada principalmente por secas e chuvas excessivas. Precipitação, risco de fogo e vento também foram variáveis climáticas com impacto sobre a probabilidade de perdas.

Maiores índices de risco de fogo estão relacionados a maiores riscos de seca. E a ocorrência de chuvas fortes e tempestades está associada ao excesso de precipitação e à velocidade elevada do vento. Neste contexto, instrumentos de gerenciamento de risco ajudam os produtores rurais a se proteger dos riscos naturais.

“Identificar essas variáveis climáticas é importante para a previsão de perdas futuras e, por conseguinte, para orientar a implementação de políticas públicas e de ações efetivas por parte das seguradoras”, conclui Priscila.

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