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Pesquisadores pedem que Cerrado seja discutido na COP 28

Pesquisadores pedem que Cerrado seja discutido na COP 28Texto destaca serviços ecossistêmicos de biomas não florestais. Foto: CNA

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Por André Garcia

Pesquisadores de todo mundo pediram a inclusão do Cerrado nas discussões da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 28), em carta publicada na revista Nature Ecology & Evolution na última segunda-feira, 6/11. As 45 assinaturas incluem cientistas da Universidade Federal de Goiás (UFG).

De acordo com o texto, a ênfase global em deter a perda florestal não conseguiu reconhecer a biodiversidade e a prestação de serviços ecossistêmicos de biomas não florestais, como o Cerrado brasileiro. Desta forma, a conservação nestas regiões estaria sendo negligenciada na formulação de políticas públicas.

“Aqui, destacamos a necessidade urgente de abordar a sua destruição, inclusive na próxima Conferência das Partes da ONU (COP28), e de esforços coordenados para proteger estes ecossistemas não florestais no meio da crise climática”, diz trecho da publicação.

Como noticiado pelo Gigante 163, em carta publicada pela Nature em julho, cientistas já haviam pedido a priorização do bioma em discussões diplomáticas. O documento foi assinado por especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Universidade Griffith, na Austrália, e da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica.

“O Cerrado está excluído dos principais esforços de sustentabilidade do agronegócio – notavelmente, a Moratória da Soja, um bem-sucedido acordo de desmatamento zero de várias partes interessadas que se aplica apenas ao bioma amazônico. Além disso, novas propostas legais devem piorar essa situação”, afirmaram à época.

A COP 28 será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre 30 de novembro e 12 de dezembro de 2023.

Prestação de serviços ecossistêmicos

Desta vez, os pesquisadores também reforçaram o contraste entre o Cerrado, onde os números do desmatamento aumentaram e a Amazônia, onde caíram.

“Tradicionalmente existe essa ideia de que o Cerrado – e o mesmo vale aqui no Brasil para a Caatinga e para os Pampas – é um bioma menos importante porque não tem ‘florestas’ ou ‘matas’ em maior proporção, e a imagem que as pessoas e os tomadores de decisão têm é de que são áreas abertas que não têm muita biodiversidade”, afirma o explicou ao Jornal Opção o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e vice-coordenador do PPGEcoEvol.

Entretanto, como acrescenta o professor Manuel Eduardo Ferreira, do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), o Cerrado possui uma importância tão grande quanto a da Amazônia em termos de biodiversidade e de recursos naturais. “Ainda assim, o bioma se encontra em uma situação bastante desfavorável em relação a políticas públicas, legislação e esforços governamentais para o combate ao desmatamento e para a sua conservação”, pontua o professor, que é vice-coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig).

Fronteira agrícola

Projeções do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apontam que o crescimento da produção agrícola pode aumentar a área ocupada no Cerrado em até 51%. O dado acende um alerta para a região do Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde o desmatamento aumentou 52% na última década.

A questão foi reforçada em julho pela Nature Sustainability, que destacou que quase 25% da colheita de soja do Cerrado é plantada ali. O texto mostra ainda que a perda de vegetação tem contribuído para eventos climáticos extremos ao longo da última década e que as atuais altas taxas de conversão comprometem o futuro da produção agrícola.

“A perda tem contribuído para eventos climáticos extremos ao longo da última década, o que aumentou o fluxo de calor sensível na superfície, reduziu a evapotranspiração e os rendimentos das colheitas e ameaçou a viabilidade dos sistemas de cultivo múltiplo, além de agravar a concentração de terras e o endividamento dos agricultores.”

Políticas nacionais

Os cientistas defendem que o Brasil adote um posicionamento mais contundente para garantir a preservação do bioma, com regulamentação mais rigorosa; aplicação da lei para limpeza de vegetação em propriedades privadas; e investimentos na expansão e melhor monitoramento de áreas protegidas e terras indígenas.

“Este momento requer uma discussão diplomática baseada na natureza direcionada a reverter a negligência do Cerrado para evitar crises ambientais e socioeconômicas com repercussões internacionais”, avaliam.

 

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