Por André Garcia
Com 6.359 km² de área derrubada entre agosto de 2022 e julho de 2023, o Cerrado bateu recorde de desmatamento. A alta também é evidenciada pelo crescimento de 21,7% nas áreas sob aviso de desmatamento nos sete primeiros meses de 2023, registrados pelo Sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 3/8.
Uma das explicações para os índices está na área de reserva legal, que no segundo maior bioma do País, é de apenas 20%. Isso significa que a devastação na região é, em grande parte, autorizada, o que impede autuações por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
“Este fator exigirá discussão importante da sociedade brasileira. Ao contrário da Amazônia, em que a reserva legal obrigatória é de 80%, no Cerrado é de 20%. Então há a possibilidade de autorização de desmatamento legal em grande quantidade, que é o que está acontecendo”, disse o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA), João Paulo Capobianco.
Crédito: MMA
Ao apresentar os números à imprensa, ele destacou que nos últimos sete meses os alertas no Cerrado atingiram uma área de 491 mil hectares, dos quais 482,3 mil correspondem a desmatamento autorizado.
“Quase a totalidade foi baseada em autorizações emitidas pelos órgãos ambientais. Infelizmente o que se verifica é que elas estão sendo dadas de forma discutível, para dizer o mínimo, e resultando em um volume enorme de autorizações”, pontuou.
Segundo o Deter, a região do Matopiba, que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentra o maior número de alertas. Lá, apenas 10 municípios respondem por 31% do total de desmatamento.
Dinâmica do agronegócio
Neste cenário, o agronegócio tem papel fundamental, já que 76,2% do bioma está em propriedades rurais inseridas no Cadastro Ambiental Rural (CAR.
Portanto, embora o desmate não seja crime, pode ser um péssimo negócio, já é no Cerrado onde nascem oito das 12 principais bacias hidrográficas do País, que abastecem milhares de cidades, a indústria e a própria agropecuária. São 3.427 nascentes que correm para a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga e a Mata Atlântica.
Como já noticiado pelo Gigante 163, se for mantido o ritmo atual de desmatamento, estima-se que, em 2050 haverá apenas 47% do bioma em pé. A porcentagem está diretamente ligada à ocupação agrícola, e pode resultar na diminuição do volume dos rios, comprometendo, além da irrigação das lavouras, o abastecimento público e o energético.
Sob perspectiva de seca prolongada por conta do El Niño, a situação será ainda pior, especialmente porque fenômenos do tipo tenderão a se repetir com mais frequência, como vêm apontando os cientistas. Ou seja, investimentos mal pensados agora podem resultar em uma herança de crise para os filhos dos produtores.
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