Por André Garcia
Em 2024, a qualidade do ar na Amazônia foi pior do que no Sudeste, onde estão as maiores cidades do país. Diferente da poluição causada por indústrias ou trânsito, na região amazônica os índices se devem às queimadas, que vêm se tornando mais frequentes e intensas com a crise climática.
É o que mostram dados do MapBiomas Atmosfera, divulgados nesta quarta-feira (5). A plataforma estima níveis de material particulado fino (MP2,5) entre 2003 e 2024 e aponta que Mato Grosso é o segundo estado com o pior índice do Brasil, com média anual estimada de 30 µg/m3, atrás apenas de Rondônia, com 42 µg/m3.
“O material particulado fino (MP2,5) é composto por partículas microscópicas presentes no ar, que representam uma das formas mais nocivas de poluição atmosférica e oferecem riscos à saúde da população”, explica Luiz Augusto Toledo Machado, professor visitante da USP e membro da equipe MapBiomas Atmosfera.
Seca e calor pioram a crise
A seca prolongada e o aumento da temperatura agravaram o cenário. De acordo com o MapBiomas Atmosfera, em 2024, a chuva no bioma ficou 20% abaixo da média – para se ter ideia, em algumas áreas o déficit foi de 1.000 mm/ano. Enquanto isso, a temperatura bateu 1,5° C acima do normal.
Como resultado, a área queimada alcançou 15,6 milhões de hectares e a concentração média de MP2,5 chegou a 24,8 µg/m³ no ano. No pico da estação do fogo, em setembro, a poluição atingiu 43 µg/m³ no bioma, enquanto no período chuvoso o valor caiu para menos de 15 µg/m³.
“A baixa qualidade do ar tem relação direta com a fumaça dos incêndios florestais, que ocorrem principalmente na estação seca do bioma, entre julho e setembro, quando as chuvas diminuem de 250 mm/mês para 100 mm/mês, aproximadamente”, explica Luciana Rizzo, professora da Universidade de São Paulo (USP).
Ar puro
A plataforma inclui dados sobre poluição do ar entre 2003 e 2024, estimados a partir de modelos globais. Eles mostram que o ar mais limpo do Brasil se encontra em estados litorâneos do Nordeste, como Bahia, Sergipe e Pernambuco, onde a concentração de material particulado fino (MP2,5) foi inferior a 7 µg/m3 no ano passado.
LEIA MAIS:
Poluição do ar por incêndios provoca 1,5 milhão de mortes anuais
Fumaça da Amazônia e do Pantanal se iguala a 5 anos de poluição em SP
Amazônia atinge limite máximo de temperatura; Pantanal supera
Amazônia esquenta mais rápido e aumento passa de 3 °C em 40 anos
População de MT vive ‘asfixia invisível’ provocada por queimadas

