Por André Garcia
Nesta semana o dólar ganhou força e bateu os R$ 5,8619, após a vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos. A princípio, o que se espera com a notícia é a valorização da soja brasileira no mercado externo. Mas o cenário envolve outros fatores e alta no câmbio significa necessariamente mais rentabilidade ao produtor, que também vai lidar com custos de produção mais altos, podendo perder margem de lucro.
Essa equação interessa, sobretudo, ao sojicultor de Mato Grosso, estado que lidera a produção e exportação no Brasil. Em entrevista ao Gigante 163 o produtor e presidente do Sindicato Rural de Sinop Ilson Redivo destacou que o cenário exige uma avaliação cautelosa das condições futuras de comercialização e de novas oscilações cambiais.
“O produtor tem expertise sobre o que acontece da porteira para dentro, mas não tem controle desse movimento que ocorre da porteira para fora. O preço da soja não é formado somente pelo dólar e depende também de fatores como o valor do frete nacional e internacional e do prêmio pago pelas empresas compradoras. Quando sobe o dólar, as empresas baixam o prêmio”, afirmou.
Os pequenos e médios produtores estão mais vulneráveis a estas oscilações, porque têm menos poder de negociação e maior dificuldade para acessar linhas de crédito em condições favoráveis, especialmente aquelas que oferecem proteção cambial.
“A alta do dólar é um benefício pontual para uma minoria de grandes produtores, que têm soja armazenada e, teoricamente, podem vender a um preço melhor. Mas o pequeno e o médio já venderam tudo o que tinham, não têm mais nada disponível porque não têm estrutura, não têm armazém para estocar.”
A fala de Redivo é reforçada por relatório semanal do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA) publicado na segunda-feira, 4/11. A entidade revisou as previsões dos estoques finais de soja para baixo, apontando uma redução de 18,40% em comparação à publicação da semana passada, reajustando agora para uma projeção de 0,24 mi de toneladas.
Dolarização dos insumos
Muitos fertilizantes, defensivos agrícolas e maquinários, são importados e pagos em dólares. Embora o sojicultor mato-grossense já tenha comprado boa parte destes insumos para a safra 2024/2025, tendo iniciado o plantio nas últimas de outubro, ainda existe a possibilidade de que surjam novas demandas.
“Os insumos não foram adquiridos na totalidade para esta safra e ninguém sabe como será o tempo daqui pra frente. Às vezes o produtor investiu em defensivos para fazer três aplicações, mas se for preciso fazer mais uma, vai precisar comprar de novo”, explicou Redivo.
O problema é que, quando o dólar sobe, o preço dos insumos e do combustível é reajustado quase que imediatamente, o que não é acompanhado pelo valor da soja. Nesta semana o preço do farelo de soja na Bolsa de Chicago, por exemplo, teve desvalorização de 4,25% em comparação à semana anterior, atingindo uma média de US$ 301,60/t.
“Nesses últimos dois anos, uma colheitadeira que antes era adquirida com 25 mil sacas de soja está saindo por 40 mil sacas. A situação está começando a mudar agora. Então, o reajuste para o produtor é sempre demorado, mas para as empresas vendedoras é sempre momentâneo”, acrescentou Ilson.
Cautela
Para evitar prejuízos, vale considerar contratos de venda antecipada, alternativas para reduzir gastos, como melhorar a eficiência no uso de insumos e adotar técnicas de plantio de precisão. Em casos específicos, a retenção de parte da produção para venda em momentos de pico de preço também pode ser viável
“É difícil prevermos esses impactos, mas o que o produtor não pode fazer de modo algum é destravar a moeda. Isso significa que, se ele comprou adubo em dólar, a venda futura da soja tem que ser feita em dólar, esperando o melhor momento. Vender em real é suicídio”, concluiu Revido.
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