Por André Garcia
Investimentos entre US$ 14 bilhões e US$ 20 bilhões por ano, novas tecnologias e modelo de produção agropecuária carbono zero podem agregar anualmente ao PIB nacional entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões por ano. Os cálculos são do CEO da Digital Gaya, Ned Harvey, e reforçam o potencial do carbono zero para o agronegócio brasileiro.
Quem acompanha o Gigante 163 sabe que a estratégia, um dos quatro pilares do Pacto Global da ONU e chave para o desenvolvimento sustentável, oferece ao Brasil oportunidades de negócios superiores às de qualquer outro país. Conforme temos publicado, as perspectivas se repetem entre pesquisadores e empresários e tem se embasado políticas do governo.
Um estudo do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), por exemplo, aponta que a restauração otimizada de apenas 10% da área degradada da Amazônia é capaz de gerar uma receita de até R$ 132 bilhões. O cálculo foi explicado pela bióloga e doutora em Ecologia e Evolução Raísa Vieira e o geógrafo Eduardo Lacerda à nossa reportagem.
No caso de Harvey, especialista em tecnologias inovadoras de práticas regenerativas, a avaliação diz respeito à importância de inovações originadas em pesquisas acadêmicas, uma vez que estas darão o suporte fundamental para sustentação dos projetos. Foi o que explicou em entrevista publicada pelo Valor Econômico nesta segunda-feira, 13/3.
“O Brasil tem a oportunidade da vida nesse momento”, afirma Harvey.
Mas, para atingir tais cifras, o país precisa facilitar acesso aos milhares de pequenos produtores na região Amazônia a essas novas tecnologias, de modo que possam usar seus conhecimentos na transição rumo à produção sustentável. Além disso, deve garantir transparência e recursos adequados para atração dos recursos, um grande desafio.
“Os investidores globais precisam confiar que terão o retorno esperado. Eles precisam acreditar que o Brasil é o lugar certo para aportar recursos na produção de superalimentos e produtos agrícolas sustentáveis”, diz.
Agropecuária
Neste contexto, o agronegócio é setor chave para desenvolvimento sustentável nacional. Líder na exportação de carne bovina no mundo, além de ser um dos maiores exportadores de soja, o Brasil tem pela frente o desafio de ampliar sua produção mirando uma agropecuária de baixo carbono.

Crédito: Embrapa
Estudos mostram que os projetos atuais poderão mitigar, até 2030, 215 megatoneladas emissões de carbono. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2030 o consumo médio global per capita deverá aumentar 14,2%. Hoje, é de 34,1 kg, chegando a 60 kg no conjunto dos países desenvolvidos.
Coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Daniel Vargas observa que 50% das emissões brasileiras de gases de efeito-estufa são resultantes do desmatamento e do corte da floresta na Amazônia, os outros 25% estão associados à agricultura e à pecuária.
Logo, para fazer frente à expansão da demanda global de alimentos de forma sustentável, será preciso dialogar com o setor florestal e o de produção de alimentos. A transição verde prevê mudança do uso da terra, envolvendo produtores e gerando renda e oportunidade de crescimento.
É o que também observa Alessandra Fajardo, da Bayer, ao lembrar que, para cada hectare plantado hoje no Brasil, há cerca de três hectares abandonados em regiões potencialmente férteis. Para ela, o aumento da produção demanda preservação.
“Não precisamos mais de área para produção. Precisamos produzir mais nas áreas já disponíveis”, pontua.
Caminho para a sustentabilidade
Fundadora da Preta Terra, Paula Terra avalia que o carbono é a ponta do iceberg, o protótipo do pagamento por serviços ambientais. Diante disso, ela cita técnicas ainda pouco utilizadas na produção agropecuária sustentável que podem ser expandidas para restauração.
“Essa realidade é uma oportunidade para o Brasil. Podemos recuperar áreas degradadas com agricultura regenerativa, recuperando essas áreas por meio da produção de grãos, pecuária ou sistemas agroflorestais.”
Já a diretora do Instituto Arapyaú, Renata Piazzon, considera que um dos principais incentivos para avançar na cultura sustentável está no potencial das redes e na articulação entre poder público, privado e sociedade civil em torno de uma transformação sistêmica.
Ou seja, estratégia integrada, que busca convergência entre a agenda agro e ambiental. A seu ver, não se pode falar em desmatamento sem falar em desenvolvimento que promova a transformação do território. Ou seja, não dá para falar de alternativas econômicas que mantenham a floresta em pé sem qualidade de vida para a população.
“Das 4,5 mil comunidades indígenas e quilombolas da Amazônia, só uma tem conectividade. Isso dificulta a disseminação da tecnologia de baixo carbono. Temos que olhar para as 30 milhões de pessoas que lá vivem. O desafio é promover alternativas que conciliem o capital natural com a dignidade das pessoas que vivem na região”, conclui.
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