Por André Garcia
O casal Gebrair Pinheiro e Márcia Krindgies trocou a estabilidade do serviço público pelo sonho de viver da terra. Há três anos, eles deixaram Lucas do Rio Verde rumo ao Sítio Nossa Senhora das Graças, em Tapurah, onde investem na produção de abacaxi. No centro dessa mudança está a agroecologia, que já garante o cultivo de 18 mil pés.
“Tínhamos um dinheiro guardado e pensamos em comprar uma chácara apenas para lazer. Mas meu esposo ganhou 300 mudas de abacaxi e decidiu plantar. Aos poucos, fomos gostando e tomando gosto pela produção”, conta Márcia.
Com base no uso racional dos recursos naturais, na diversificação de culturas e na ausência de insumos químicos, a agroecologia entrega alimentos mais saudáveis e solos mais férteis. Cada vez mais experiências em Mato Grosso mostram que o modelo é viável e gera renda de forma sustentável.
Na propriedade de quatro hectares dos Krindgies, 2,4 hectares são destinados ao cultivo, realizado em consórcio com outros orgânicos, como a mandioca e a batata-doce. Hoje, o Sítio Nossa Senhora das Graças gera uma renda média de R$ 4 mil líquidos por mês, exclusivamente da produção agrícola.
“Eu era motorista e já falei para minha esposa: o resto da nossa vida será aqui. Aqui era tudo mato. Da primeira vez, colhi, replantei e fui aumentando. Hoje temos uma produção consolidada”, diz Gebrair, ao relembrar os primeiros passos.
Apoio técnico
Como qualquer sistema produtivo, o modelo adotado pela família exige acompanhamento técnico. Todo o processo conta com o suporte da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), que realiza análises de solo, orienta o manejo de pragas, o uso de caldas naturais e a irrigação.
“Eles seguem as orientações, fazemos as análises de solo e, sob nossa orientação, eles utilizam caldas agroecológicas e têm uma participação ativa. É um exemplo de como o apoio técnico e o trabalho familiar caminham juntos para o desenvolvimento rural sustentável”, explica o técnico da Empaer Alfredo Neto.
O casal também participa do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que ampliam o acesso a mercados institucionais e garantem a comercialização da produção.
Desenvolvimento local
A cadeia produtiva de Tapurah inclui desde a apicultura até o cultivo de frutas, mostrando que a agricultura familiar também é sinônimo de desenvolvimento. Em um estado conhecido pela produção de grãos em larga escala, essas iniciativas diversificam a economia, geram emprego e garantem o abastecimento de alimentos frescos.
De acordo com a Empaer, são 803 propriedades rurais familiares, que representam 53% da área produtiva da agropecuária local. Além disso, entre 2019 e 2025, o Governo de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), investiu mais de R$ 2,6 milhões em ações voltadas ao fortalecimento da agricultura familiar no município.
Adaptação climática
Recentemente, um estudo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) mostrou que as agroflorestas estão ajudando pequenos produtores a se adaptarem aos efeitos da crise climática. As estratégias, em geral de baixo custo, indicam caminhos para reduzir perdas também na produção em larga escala.
Segundo o levantamento, 42% desses sistemas atuam diretamente na gestão hídrica, enquanto 70,7% realizam manejo sustentável do solo. Essas práticas são essenciais para evitar perdas em períodos de seca ou de chuvas intensas – condições que já provocaram queda na produção em mais da metade das propriedades analisadas.
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