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Chuva no RS abala agro com perda na lavoura e negociações travadas

Chuva no RS abala agro com perda na lavoura e negociações travadasQueda de pontes e estradas isolam fazendas pelo interior. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

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Por André Garcia

Para além da tragédia humana, as tempestades que colocaram o Rio Grande do Sul debaixo d’água já iniciaram um efeito cascata sobre todo o mercado, complicando ainda mais a recuperação do estado. No agronegócio, o setor mais afetado, atrasos na colheita e problemas no escoamento já travam negociações e apontam para alta na inflação.

Para se ter ideia, de 29/4 a 6/5, foram contabilizados mais de R$ 967,2 milhões em prejuízos financeiros, dos quais, R$ 423,8 milhões dizem respeito à agropecuária. Os dados são da Confederação Nacional de Municípios (CNM) e consideram apenas 25 municípios dos 336 em estado de calamidade pública. Ou seja, o valor total será muito maior.

Itens como soja, leite, frutas e arroz serão os mais afetados. Segundo a Datagro, o potencial de perdas do arroz é estimado entre 600 mil e 700 mil toneladas, ou cerca de metade do total ainda a ser colhido. Na soja, as perdas potenciais são de 750 mil a 1,25 milhão de toneladas, ou 15% a 25% da área ainda não colhida.

O presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, explica que a queda de barreiras e pontes, a destruição de estradas vicinais e os alagamentos continuam isolando fazendas pelo interior. Muitas delas já estão ficando sem combustível e alimentação para as vacas.

“Sei de propriedades, com grande número de vacas, que estão ordenhando uma vez ao dia só porque têm pouquíssimo combustível. Os produtores estão fazendo alguns trajetos a pé, pegando óleo em pequenas quantidades, enquanto for possível. Temos relatos de diminuição de ração para os animais, pois faltará o produto”, informou em nota.

Negociações travadas

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA Esalq/USP), a tragédia travou as negociações. Produtores seguem avaliando as consequências sobre as lavouras a serem colhidas, assim como sobre unidades armazenadoras. Com isso, a liquidez no mercado de arroz em casca foi praticamente nula na última semana.

Inflação

Todo este cenário deve pressionar o preço das principais culturas do Estado e elevar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 em pelo menos 0,10 ponto porcentual, conforme cálculo do economista Fábio Romão, que atua na LCA Consultores.

Ouvido pelo Investalk, do Banco do Brasil, ele explicou que a LCA elevou a projeção para a inflação dos alimentos no domicílio de 2024, de 3,9% para 4,5%, mas manteve a expectativa para o índice geral do ano em 3,7%.

“Tem o impacto dos alimentos, mas por outro lado, acabei moderando a estimativa para combustíveis e energia elétrica, que têm vindo comportados”, explica Romão,

A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Ângelo, elevou de 3,8% para 3,9% sua projeção para o IPCA do ano, mas reconhece que há um risco de alta adicional, à medida que informações mais precisas sobre o impacto das chuvas chegarem.

“Eliminei a queda que previa no preço do arroz no meio do ano. Após uma alta de 24,5% no ano passado, o arroz já vinha em desaceleração e entraria em deflação, onde ficaria até setembro”, pontua.

Urgência na adaptação

A tragédia no Rio Grande do Sul já deixou 85 mortos e 339 feridos, além de 134 desaparecidos. Mais de 201 mil pessoas estão fora de casa, sendo 153.824 desalojados e 47.676 em abrigos públicos. A CNM destaca que, nos últimos anos, inúmeros municípios vêm sendo atingidos por desastres naturais e nunca conseguiram se reconstruir.

Como já mostramos, eventos climáticos deste tipo são considerados como especialistas como o “novo normal” e exigem adaptação da administração pública para reduzir tanto as perdas humanas como os prejuízos econômicos. O problema é que, no Brasil, pelo menos 68% dos municípios não estão preparados para isso.

É o que aponta a pesquisa “Emergência Climática”, realizada pela CMN. Ao todo, prefeituras de 3.590 dos 5.570 municípios brasileiros responderam ao questionário, que considerou ações como elaboração dos planos de mitigação e adaptação, medidas estruturais para enfrentar as emergências climáticas e captação de recursos.

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