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Desmatamento avança sobre sítios arqueológicos do Cerrado

Desmatamento avança sobre sítios arqueológicos do CerradoBioma abriga 4.914 sítios arqueológicos. Foto: Iphan

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O Cerrado é uma das regiões com mais sítios arqueológicos do Brasil. Mas a vegetação nativa ao redor desses locais vem sendo cada vez mais substituída por pastagens, lavouras e áreas urbanas. Esse avanço do desmatamento pode prejudicar não só o meio ambiente, mas também a preservação da nossa história.

Segundo dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Cerrado abriga 4.914 sítios arqueológicos oficialmente registrados, grande parte deles na região Centro-Oeste. Esses locais guardam vestígios materiais de atividades humanas passadas, tanto do período pré-colonial quanto histórico, e podem estar na superfície, enterrados ou submersos.

Os dados foram reunidos de forma inédita pela rede MapBiomas, que cruzou a localização dos 27.974 sítios arqueológicos oficialmente cadastrados no país com informações sobre uso da terra e alertas de desmatamento. A plataforma mostra que o entorno desses sítios sofreu mudanças significativas nas últimas décadas.

Em 1985, cerca de 53% da área em um raio de 100 metros ao redor dos sítios era coberta por vegetação nativa, como florestas, savanas e campos naturais. Já em 2023, esse número caiu para 41,5%. Ao mesmo tempo, aumentou a presença de áreas antrópicas, ou seja, áreas modificadas pela atividade humana, como pastagens, agricultura e urbanização.

No Cerrado, 41,1% dos sítios já estão cercados por áreas antrópicas, segundo os dados mais recentes. O bioma só perde em impacto para a Mata Atlântica (63%) e para a Amazônia (47,5%). Ainda assim, é uma das regiões mais vulneráveis à perda de vegetação nativa e exige atenção quanto à preservação de seu patrimônio histórico e cultural.

“O cruzamento desses dados nos ajuda a entender onde estão os sítios, se já foram impactados por atividades humanas e onde há riscos crescentes. Isso pode nos orientar sobre onde priorizar ações de preservação”, explica Thiago Berlanga Trindade, chefe do Serviço de Registro e Cadastro de Dados do IPHAN.

Perda da vegetação nativa na Amazônia Legal

Os estados da Amazônia Legal, por exemplo, concentram os maiores percentuais de perda de vegetação nativa no entorno dos sítios. No Acre, essa cobertura caiu de 70% em 1985 para apenas 10% em 2023. Também se destacam Rondônia e Pará com perdas significativas.

Além da análise da cobertura vegetal, os dados do MapBiomas mostram que a agropecuária é hoje o principal uso da terra nas áreas ao redor dos sítios arqueológicos. Em 1985, florestas ocupavam 43,2% dessas áreas, contra 38% da agropecuária. Já em 2023, a situação se inverteu: 43,1% são áreas agrícolas ou de pastagem, e apenas 32,5% mantêm cobertura florestal. Também houve aumento nas áreas com presença de água, que passaram de 4,9% para 8,9%.

A Amazônia continua liderando em número total de sítios arqueológicos (10.197), seguida pela Caatinga (7.004) e pelo Cerrado (4.914). A Mata Atlântica abriga 4.832 sítios, o Pampa, 904, e o Pantanal, 123.

A plataforma também permite visualizar alertas de desmatamento em áreas que abrigam sítios arqueológicos. Entre 2019 e 2024, foram registrados 122 alertas. A Caatinga lidera com 45 sítios em áreas com desmatamento, seguida pela Mata Atlântica (31), Cerrado (29) e Amazônia (17). A maior parte desses alertas (79 sítios) está relacionada à expansão da agropecuária.