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O que a tragédia no litoral de São Paulo mostra para o agronegócio de MT?

O que a tragédia no litoral de São Paulo mostra para o agronegócio de MT?Ação humana é determinante para a repetição de catástrofes. Rovena Rosa/Agência Brasil

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Por André Garcia

Além da extinção de espécies e do desequilíbrio de ecossistemas, o aquecimento global  tornará mais frequentes  temporais, inundações, secas e ondas de frio e calor, fazendo com que cenas catastróficas, como as registradas no litoral norte de São Paulo nos últimos dias, se repitam muito mais vezes. De olho no impacto que as mudanças climáticas já têm causado, o que Mato Grosso pode perder?

A resposta está no agronegócio, que dependente diretamente dos ciclos climáticos. Especialistas apontam que o cenário de aumento na temperatura oferecerá dificuldades de financiamento rural e proteção aos produtores, além de riscos de desabastecimento, insegurança alimentar e proliferação de pragas e doenças, já que as plantas ficarão mais susceptíveis.

Os prejuízos são abordados em artigo publicado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Jurídica do Senado Federal, em dezembro 2022. De acordo com os autores, os impactos sobre a produtividade agrícola podem causar perdas no Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 3,5 bilhões a R$ 8,1 bilhões ao longo dos anos.

Deste modo, embora haja grandes diferenças entre a geografia de Mato Grosso e de São Paulo, é importante lembrar que há uma variável comum entre os estados quando o assunto é o aquecimento global: a influência humana.  Para se ter uma ideia da intervenção do homem na paisagem mato-grossense, a pastagem aqui cresceu 197% ao longo de 37 anos,  correspondendo a 22,7% da cobertura do solo, segundo o MapBiomas. Isso sem considerar o espaço destinado à agricultura e à urbanização.

Nos últimos anos, alertas dos pesquisadores do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) indicaram que a do homem levou o planeta à trajetória de aquecimento mais rápida em 2 mil anos e já produziu uma temperatura média que supera o período pré-industrial em mais de 1 grau Celsius (°C).

Para dar uma dimensão do problema, o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, falou à Agência Brasil sobre a sucessão de eventos extremos nos últimos anos, incluindo temporais no Recife, na Bahia e no norte de Minas Gerais. A partir disso, ele prospecta o impacto para a agricultura e para toda a economia brasileira no geral.

“Os temporais causam essa tragédia imediata, com deslizamentos que têm um custo em vidas que é muito mais mensurável, mas a questão da seca no Brasil tem impacto também preocupante. O Brasil é um país muito dependente das chuvas, principalmente por conta da geração de energia elétrica. Podemos ter crises hídricas, energéticas e na agricultura”, disse.

Não à toa, as mudanças climáticas e seus impactos de curto e longo prazos são o principal risco para os negócios de empresas do agro no Brasil. Como já mostrado pelo Gigante 163, 82% dos empresários do setor acredita que elas podem causar prejuízos e 47% deles  reconsiderariam aportes com base nestas ameaças.

O que podemos aprender?

Neste cenário, ganha espaço a agricultura sustentável, que oferece soluções em sistemas de irrigação, técnicas para melhorar a infiltração da água da chuva, variedades de cultivos resistentes à seca e adoção de boas práticas.

Exemplo disso são os sistemas integrados de produção. Eles comportam mais de uma atividade agrícola em um mesmo espaço, ao mesmo tempo. Isso agrega valor aos produtos gerados, reduz custos de produção, aumenta produtividade e auxilia no controle das emissões de GEE.

Assim, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) reúne todos os componentes: agrícola, pecuária e florestal em um único sistema. No Brasil já são 15 milhões de hectares que usam esse sistema de produção.

Além dos sistemas de cultivo, devem ser reconhecidas as práticas conservacionistas de solo, como o plantio direto, que consiste na ausência do revolvimento da terra no momento do preparo do solo. Com essa prática o uso de maquinários é diminuído, o que promove a redução de emissão de CO2 e de outros gases de efeito estufa.

É possível citar ainda estratégias como a utilização de biofertilizantes, agricultura de baixo carbono e a utilização da tecnologia no campo, temas já bordados pelo Gigante 163. 

Prevenção de de desastres

Pensando em aumentar a precisão e melhorar a prevenção de desastres ambientais e climáticos, pesquisadores estão desenvolvendo um novo modelo matemático de previsão de tempo específico para o Brasil. Batizado de Monan (sigla em inglês para Modelo para Previsão dos Oceanos, Superfícies Terrestres e Atmosfera), o projeto está sendo comandado por um comitê científico chefiado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

De acordo com Publicação da Folha de São Paulo, o objetivo é que centros de pesquisa passem a usar esse modelo mais moderno, que será criado com foco nas condições e particularidades do país. Assim, seria possível antecipar de forma mais refinada não só eventos climáticos como as chuvas que devastaram o litoral norte de São Paulo na semana passada, mas também analisar mudanças na temperatura média e nos regimes de chuva de cada estação.

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