HomeEconomia

‘Mudar lei ambiental não vai resolver o nosso problema com fertilizantes’

‘Mudar lei ambiental não vai resolver o nosso problema com fertilizantes’

7 em cada 10 brasileiros vivenciaram extremo do clima, diz pesquisa
Preocupados com seca, precuaristas tentam segurar preço do boi gordo
Ações da Operação Incêndios 2025 da PF iniciam pelo Pantanal

Vinicius Marques

Com os conflitos entre Rússia e Ucrânia, a questão da dependência internacional do Brasil em relação a fertilizantes ganhou ainda mais destaque. Os russos são responsáveis por fornecer cerca de 25% de insumos para adubos importados pelo País. Assim, enquanto alguns defendem a exploração de novas jazidas minerais na Amazônia, vizinhas a terras indígenas, como possível prevenção à crise do setor, especialistas afirmam que a cadeia é complexa e exige análise mais aprofundada.

Para José Carlos Hausknecht, sócio diretor na MB Agro — empresa de consultoria do agronegócio fundada por José Roberto Mendonça de Barros e Luiz Carlos Mendonça de Barros —, promover a independência brasileira no setor é interessante, mas o caminho não é simples, rápido, muito menos barato.

Atualmente, há um projeto de lei (191/2020, do Poder Executivo) que regulamenta a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em reservas indígenas, permitindo assim a extração de matéria-prima como o potássio, para a fabricação de insumos agrícolas. O PL pode tramitar em regime de urgência na Câmara dos Deputados, depois que o presidente Jair Bolsonaro defendeu sua importância, na semana passada, para a segurança alimentar do Brasil.

Para Hausknecht, no entanto,  “não é uma questão de simplesmente mudar uma lei ambiental que vai resolver o nosso problema”.

“Nós temos, por exemplo, outros produtos de fertilizante como o fósforo que não têm essa limitação, mas que, mesmo assim, não andam”, aponta o diretor da MB Agro. “Isso é resultado de pouco investimento, reservas minerais e jazidas em locais muito complicados, matéria-prima de baixa qualidade, além dos problemas logísticos e ambientais, que fazem com que tal exploração seja economicamente inviável” disse ele ao Gigante 163.

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega concorda com Hausknecht. E, mais, afirma que explorar terras indígenas  é “ideia maluca”.

“Potássio também é encontrado em outras regiões, como países da África, Canadá. A ideia de explorar terras indígenas é maluca porque vai invadir terras protegidas pela Constituição, seria necessária uma medida legislativa, e tem que entender como funciona o mercado. É preciso saber se os empresários vão para lá. Depende do custo”, afirmou o ex-ministro ao UOL.

Hausknecht diz que aumentar a produção de fertilizantes dentro do País e, consequentemente, diminuir a importação da Rússia, acaba sendo importante em casos como esse, em que países exportadores se envolvem em situações que afetam a cadeia de exportação.

No entanto, para o agropecuarista brasileiro, a diferença entre ter o fertilizante produzido em terras brasileiras ou não é mínima. O maior benefício, em termos de gastos, seria a redução dos fretes, especialmente para produtores próximos às fábricas, mas o valor do insumo em si não seria um ganho relevante ao agronegócio. “O preço dos produtos é regido pelo mercado internacional, então naturalmente os custos não mudariam muito”, explica o economista. 

Além do mais, segundo estudo feito por Hausknecht para a Agência Nacional para Difusão de Adubos (Anda), os fertilizantes vindos de fora acabam pagando menos impostos do que os produzidos aqui. Isso acaba afetando a competitividade entre os insumos nacionais e internacionais, desincentivando empresas a atuarem no Brasil.

“Tem que analisar onde estão os problemas, para entender como encontrar uma solução viável”, conclui Hausknecht. “É preciso pensar um pouco mais profundamente e aí sim fazer uma proposta que realmente traga competitividade ao setor.”

LEIA MAIS: 

Caravana itinerante vai mostrar como aumentar eficiência de fertilizantes

Brasil tem fertilizante suficiente até outubro, garante Tereza Cristina

Tensão entre Rússia e Ucrânia pode afetar importação e exportação brasileiras

Árabes querem ampliar exportação de fertilizantes para o Brasil