Por André Garcia
Para além das grandes fazendas, a revolução tecnológica deverá alcançar também os pequenos agricultores brasileiros. Representando 77% do agronegócio nacional, eles terão apoio da China para impulsionar a mecanização e a digitalização na agricultura familiar, aproximando o setor de novos mercados e ampliando seus resultados.
É o que promete o acordo recém-firmado pela Embrapa e a estatal chinesa Sinomach Digital, que até 2030 prevê a criação de centros de serviços agrícolas inteligentes em diversas regiões. Esses espaços oferecerão máquinas de pequeno e médio porte, plataformas digitais de gestão e tecnologias como internet das coisas, big data e IA.
“O objetivo é uma agricultura sustentável, inclusiva e voltada ao uso de máquinas e equipamentos que beneficiem a agricultura familiar, dignificando o trabalho e aumentando a competitividade”, explicou a diretora de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia da Embrapa, Ana Euler.
A parceria prevê investimentos chineses da ordem de R$ 27 bilhões, além de acordos para o uso de moedas nacionais nas transações comerciais.
“Nosso objetivo é aprofundar o fornecimento de máquinas agrícolas e criar novas oportunidades de renda para operadores e prestadores de serviço na agricultura familiar brasileira, incentivando a adoção de tecnologias inteligentes como a inteligência artificial”, acrescentou Li Wei, vice-presidente da Sinomach Digital.
Caminho para a mecanização
Os esforços envolvem também o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Casa Civil, que viram na China uma aliada estratégica. Para se ter ideia, lá, mais de 98% da agricultura é mecanizada.

Ana Euler e Li Wei assinam o acordo; ao lado, o ministro Xing Wenju. Crédito: Embrapa
Essa expertise pode ser determinante para o Brasil, que pretende atingir 66% de mecanização na agricultura familiar como parte da política nacional de reindustrialização. Foi o que reforçou Vivian Libório, diretora do Departamento de Inovação para a Produção Familiar e Transição Agroecológica do MDA.
“A união de uma das maiores indústrias do mundo com essa grande instituição nacional de pesquisa é mais um passo para reduzir a penosidade e gerar produtividade e renda para os agricultores e agricultoras familiares”, disse.
Para isso, outro caminho importante é o Plano Safra 2025/2026. Com mais de R$ 78 bilhões destinados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), a aposta é a promoção de tecnologia, inovação e conectividade como ferramentas-chave para o desenvolvimento do setor.
Desafio para 77% do agro
Embora sejam vitais para a segurança alimentar e a soberania, os pequenos produtores do Brasil enfrentam um atraso tecnológico. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 3,9 milhões de propriedades de base familiar no país. Contudo, só 13% delas utilizam tratores em suas atividades, por exemplo.
A China, por outro lado, tem alcançado resultados notáveis na produção agrícola mesmo com recursos limitados, graças a investimentos em tecnologia e recursos humanos.
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