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Recuperação de pastagens brasileiras está na mira do mercado internacional

Recuperação de pastagens brasileiras está na mira do mercado internacionalProjeto em Goiás promove recuperação com sementes nativas. Foto: Semad

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Por André Garcia

Para o produtor que acompanha o Gigante 163, a recuperação de pastagens degradadas como estratégia de ganho não é novidade. O que chama atenção agora é que o processo de conversão em terras brasileiras despertou o interesse do mercado internacional e deverá ser apoiado por países como Japão, Coreia do Sul, Alemanha e Arábia Saudita.

E se engana quem pensa que o interesse em financiar projetos se restringe ao cumprimento de metas ambientais. As nações também estão de olho na garantia da segurança alimentar para suas gerações futuras e buscando avançar casas na corrida por créditos de carbono, conforme pontuado em publicação da Agfeed desta sexta-feira, 4/8.

Como já mostramos, o Eximbank, o banco de exportação e importação da Coreia do Sul, por exemplo, disse que vai, via parceria com o Banco do Brasil, ofertar crédito aos agricultores brasileiros. Já a Companhia Saudita de Investimento Agrícola e Pecuária (Salic, na sigla em inglês) e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) vão apoiar projetos de conversão.

No caso dos japoneses, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) informou que deve ser financiada a conversão de 1 milhão de hectares por ano, com taxas de juros abaixo das do mercado.

E estes são apenas os acordos firmados de julho até agora. O titular do Mapa, Carlos Fávaro, negociou apoios em visita recente à Alemanha e o próprio presidente Lula tem enfatizado em seus discursos a responsabilidade dos Estados Unidos e de países da Europa em ajudar nações como o Brasil a cumprir suas metas ambientais.

Toda esta movimentação no exterior é fundamental para o produtor brasileiro, já que a adoção da prática em escala nacional demanda investimentos expressivos: cerca de US$ 120 bilhões para uma área de 40 milhões de hectares na próxima década, segundo o Ministério.

Parte desses recursos virá de bancos estatais, como o Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas o Brasil, sozinho, não conseguiria arcar com as despesas, motivo pelo qual o governo alinhou o discurso ambiental à política anti-desmatamento, na tentativa de viabilizar acordos internacionais.

Potencial

No Brasil todo, segundo estudo apresentado pela pesquisadora do Grupo de Políticas Públicas (GPP) da Esalq/USP, Marcela Araújo, a recuperação de 30 milhões de hectares até 2030 geraria um impacto positivo de 1,22% no PIB. O número pode ser potencializado, já que no país há 150 milhões de hectares de pastagens degradas.

“Tanto a recuperação das pastagens, quanto a sua conversão em áreas de agricultura, com a adoção de práticas sustentáveis, proporciona aumento de produtividade, melhor conservação do solo e da água, aumento de fertilidade do solo, além de sequestro de carbono”, diz.

Marcela estima que, para os produtores rurais, cada real investido na conversão de pastagens para ILPF tem potencial para trazer um retorno de R$ 14. Assim, junto com eles, toda a cadeia produtiva se beneficia. Não por acaso, empresas e bancos se mobilizam para surfar na nova era da recuperação.

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