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El Niño e queimadas são combinação desastrosa para a saúde

El Niño e queimadas são combinação desastrosa para a saúdeCenário aumenta a ocorrência de alergias e infecções respiratórias. Foto: Iges/DF

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Por André Garcia

Julho foi o mês mais quente da história até agora e as previsões não são de melhora para agosto, especialmente no Cerrado, marcado pela seca e baixíssima umidade do ar nesta época do ano. O combo El Niño + queimadas deixa a perspectiva ainda mais preocupante e pode, além de ocasionar prejuízos ambientais e à agricultura, ser fatal para a saúde.

Ao Gigante 163, o otorrinolaringologista Bruno Higa Nakao, que atua em Campo Grande (MS), explicou que durante o período de estiagem prolongada os problemas de saúde mais comuns são distúrbios respiratórios, desidratação, ressecamento de mucosas das vias aéreas, da pele e dos olhos.

“As pessoas ficam bastante vulneráveis a ter crises de tosse, dor de garganta e obstrução nasal. Além disso, é possível observar quadros de falta de ar e tosse com risco para bronquite e exacerbação de asma”, afirma.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a umidade ideal para a saúde humana deve estar entre 50 e 60%, o que há dias não ocorre no Centro Oeste, onde o melhor índice é o de Goiânia, com 40%. Em Cuiabá e Campo Grande as porcentagens são de 36% e no Distrito Federal de 32%.

Estes números, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), são da quinta-feira, 3/8 e devem cair nas próximas semanas, seguindo uma tendência natural da região, registrada todos os anos. O problema é que o El Niño desequilibra o regime de chuvas e prolonga a seca, causando escassez de água.

O Impacto no corpo humano

O impacto para o corpo é agravado pelas queimadas, que aumentam as partículas em suspensão e deixam o ar mais denso. Segundo Bruno, isso provoca o ressecamento das vias aéreas, essencialmente da mucosa nasal, ocular e da orofaringe, combinação que resulta em quadros de rinite, faringite, sangramento ou ardência nasal e ocular.

Como já noticiamos, estes fatores também propiciam a incidência de doenças cardiovasculares, favorecem a proliferação de vírus e aumentam a ocorrência de alergias e infecções respiratórias, especialmente em pacientes portadores de doenças crônicas, como asma, enfisema.

Diante disso, o médico chama a atenção para o risco de bronquiolite em crianças abaixo dos dois anos, mais vulneráveis a este cenário.

“O ressecamento favorece a inflamação das vias aéreas facilitando a entrada de vírus que promovem, por exemplo, crises de tosse, falta de ar e secreção nasal e brônquica. Crianças maiores podem apresentar episódios de tosse e dor de garganta com risco de crises de asma, rinite alérgica e faringites e sangramento nasal.”

Para todas as faixas etárias, Bruno recomenda evitar exercícios físicos entre 10h e 16h, devido à baixa umidade do ar neste intervalo.

“A hidratação e lavagem nasal são fundamentais para evitar a desidratação e promover a proteção da mucosa nasal. A utilização de umidificadores, panos úmidos ou baldes com água nos quartos também pode ajudar.”

Cerrado em alerta

Bombeiros tentam controlar incêndio em área de Cerrado na capital federal (Valter Campanato/Agência Brasil)

No primeiro semestre de 2023, 639 mil hectares foram queimados no Cerrado. Só no mês de junho, primeiro do período seco, houve 4472 registros de queimadas segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A falta de chuva deve se estender por alguns meses, piorando a questão dos incêndios florestais.

É o que aponta a análise da série histórica do Programa Queimadas, do Inpe. Em 2022, a partir dos 4.239 focos registrados em junho, houve uma escalada de 6.713 em julho, 10.567 em agosto e 13.651 em setembro. Os dados só começaram a mudar em outubro, com 11.594 e tiveram redução considerável apenas em novembro, com 2.154.

 

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