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Seca derrubou potencial da soja em 15 milhões de toneladas

Seca derrubou potencial da soja em 15 milhões de toneladasEstragos causados pelo El Niño nessa temporada foram maiores. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

O pessimismo sobre a safra de soja 2023/24, prejudicada pelos efeitos do aquecimento global turbinados pelo El Niño, ganha força a cada nova previsão divulgada. Dessa vez, a Agroconsult estimou que a produção brasileira deve atingir 153,8 milhões de toneladas, 3,7% abaixo da produção da safra passada. A produtividade esperada é de 56,1 sacas por hectare, abaixo das 60 sacas do ciclo passado.
Os números, divulgados na quarta-feira, 17, mostram que a quebra supera as 15,3 milhões de toneladas. A empresa lembra que as perdas foram pautadas pelo clima irregular ao longo do plantio e durante o desenvolvimento das lavouras nas diferentes regiões – com falta de chuvas e altas temperaturas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste e excesso de chuvas no Sul do País.
Diferente da temporada 2015/16, quando o fenômeno El Niño também foi de alta intensidade, nesta os estragos foram maiores, principalmente devido à maior precocidade das lavouras. Uma das consequências foi o replantio recorde de 2,9 milhões de hectares.
“O replantio acaba gerando prejuízo não apenas à safra de soja, pois incorre em novos custos e parte de um potencial produtivo menor, como também à segunda safra de milho, pois compromete a janela ideal para a semeadura”, explica André Debastiani, sócio da Agroconsult.

El Niño turbinado

Debastiani reforça que o El Niño atual está mais intenso que em anos anteriores, com as temperaturas da superfície do oceano Pacífico 1,9 grau acima da média histórica. A consequência disso é uma espécie de efeito dominó de más notícias para o produtor. Com todo esse cenário, a Agroconsult encontrou sinais de perdas irreversíveis em lavouras em praticamente todas as regiões produtoras.
“Nós tivemos um El Niño mais intenso que esse entre 2015 e 2016. Mas historicamente, esse fenômeno não muda as condições para o Centro-Oeste. Nesta safra, ocorre o oposto”.

Desvalorização

Como mostrado pelo Gigante 163, as quebras previstas não têm encontrado eco na valorização das cotações do grão, como costuma ocorrer quando se prevê uma oferta menor da commodity. E isso é explicado pela conjuntura global de produção do grão. Ou seja, a tendência é que o produtor colha menos e ganhe menos por tonelada colhida.
De acordo com a Agroconsult, nos principais estados produtores de soja, a queda chega a superar 11 sacas por hectare, como é o caso do Mato Grosso, que deve passar de 63,8 em 2022/2023 para 52,5 sacas por hectare na safra atual. Em nível nacional, a produtividade será de 4 sacas a menos por hectare se comparada ao ano passado.

No Centro-Oeste

Com a falta de chuvas e altas temperaturas registradas nos últimos meses, o Centro-Oeste é uma das regiões mais impactadas. A situação tem sido constada de perto por técnicos da empresa que participam do Rally da Safra 2024 e que, desde o dia 12  deste mês, vêm avaliando em campo as condições das áreas plantadas.
No Oeste de Mato Grosso, por exemplo, eles constataram que o clima acarretou perdas de estande e abortamento de vagens, afetando seriamente as lavouras mais precoces. Favoreceu ainda a incidência de pragas. O replantio no estado é recorde e ultrapassa 1 milhão de hectares (8,5% da área).
 “As lavouras que estão sendo colhidas agora são as piores e as mais afetadas pela seca. As áreas com variedades de ciclo médio e tardio, apesar de também terem sofrido, apresentam melhores condições, pois receberam chuvas após a segunda quinzena de dezembro. O receio agora recai sobre o possível excesso de chuvas durante a colheita nas próximas semanas”, informa a consultoria.
O Sudoeste de Goiás traz um cenário muito semelhante, com atraso significativo na regularização das chuvas e altas temperaturas. O início da colheita na região confirma resultados abaixo da expectativa dos produtores.
 Já No Mato Grosso do Sul, agora é a vez da região Norte apresentar quebras, diferente do que aconteceu na safra 2021/22, quando o Sul do estado puxou a produtividade média para baixo.
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