Por André Garcia
Apesar dos bons indicadores de vigor e produção de forragem na maioria das pastagens, quase 22% de pastagens plantadas no Brasil apresentam baixo vigor e sugerem uma condição de degradação severa. Na prática, isso significa menor lotação animal e menor retorno econômico, mesmo em regiões com boa aptidão produtiva.
Os números, divulgados recentemente pelo MapBiomas, evidenciam uma janela de oportunidade, já que essas áreas concentram o maior potencial de ganho de produtividade por meio da recuperação do solo, da intensificação do manejo e da conversão para lavouras.
“Esta área, que corresponde a aproximadamente 34 milhões de hectares, representa uma enorme oportunidade enquanto reserva de terras para outros usos, em convergência com o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas”, destaca Laerte Guimarães Ferreira, coordenador do tema Pastagem no MapBiomas.
Também conhecido como Caminho Verde, o programa do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) estabelece desmatamento zero, exige balanço anual de carbono e a adoção de uma série de boas práticas. A primeira fase está sendo financiada pelo Eco Invest, mecanismo do Ministério da Fazenda que já destinou R$ 30,2 bilhões.
Foi o que explicou o coordenador da iniciativa, Carlos Augustin, ao apresentar as metas do governo federal a produtores de Goiás, no início deste mês.
“O governo federal quer mais produção, mas com práticas sustentáveis: balanço de carbono, plantio direto, uso de bioinsumos. Uma grande vantagem para o produtor é que a taxa de juros deve ficar em torno de metade do que é praticado pelo mercado. Acreditamos que vai ser de 8% a 12% ao ano.”

Carlos Augustin detalhou Caminho Verde Brasil para produtores goianos em dezembro. Foto: Mapa
Escala e financiamento
O tema faz parte de uma agenda mais ampla de políticas públicas e ações internacionais. Em novembro, o Japão anunciou investimento de 1 bilhão de dólares na recuperação e conversão de pastagens degradadas no Cerrado. Com duração prevista entre cinco a dez anos, o trabalho terá início em abril de 2026.
Outro destaque é o programa Solo Vivo, que tem como objetivo recuperar os solos, aumentar a produtividade e gerar emprego e renda no campo. Com investimento de R$ 42,8 milhões, a iniciativa atende cerca de 800 a 1.000 famílias agricultoras, distribuídas em assentamentos de 10 municípios de Mato Grosso.
Na COP30 o Brasil lançou ainda o Resilient Agriculture Investment for Net Zero Land Degradation (RAIZ). Com a adesão de mais de 10 países, a iniciativa vai mobilizar recursos e difundir tecnologias capazes de acelerar a recuperação de áreas agrícolas degradadas em todo o mundo.
Onde estão as oportunidades
De acordo com o MapBiomas, no Pantanal, quase 45% das pastagens apresentam baixo vigor, o maior percentual entre os biomas analisados, o que corresponde a pouco mais de 1 milhão de hectares. Na Amazônia, são 10,7 milhões de hectares, o equivalente a 22,5%, enquanto no cerrado o valor é de 11,1 milhões de hectares, ou 19,9% do total.
Em um cenário no qual as atividades agropecuárias ocupam 32% do território brasileiro, sendo que 56,7% dessa área de pastagens plantadas, os números apontam para a uma oportunidade direta de intensificação do manejo e recuperação produtiva, capaz de elevar a produção agropecuária dentro do território já aberto.
Esse potencial se concentra em seis estados que detêm 69,8% dos 155 milhões de hectares ocupados por pastagens no País: Pará (21,7 milhões), Mato Grosso (20,2 milhões), Minas Gerais (19,3 milhões), Bahia (14,6 milhões), Mato Grosso do Sul (12,2 milhões) e Goiás (12 milhões).
Cenário nacional
O levantamento mostra ainda que, apesar de metade das pastagens brasileiras ter mais de 30 anos, os indicadores apontam baixa degradação biológica na maior parte das áreas. Hoje, 43% das pastagens apresentam vigor médio, o equivalente a 66,6 milhões de hectares, enquanto 35,4%, ou 54,8 milhões de hectares, operam com alto vigor.
Entre 2000 e 2024, as pastagens registraram ganho líquido de vigor de 6,2 milhões de hectares. Nesse período, o vigor aumentou em 20,8 milhões de hectares e diminuiu em 14,6 milhões, enquanto 62 milhões de hectares permaneceram estáveis. Ao todo, 11,1 milhões de hectares evoluíram para a condição de alto vigor.

Crédito: Mapbiomas
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