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Chuva nas próximas semanas pode afetar produtores de soja do Mato Grosso

Chuva nas próximas semanas pode afetar produtores de soja do Mato Grosso

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Por Vinicius Marques

A segunda quinzena de janeiro traz preocupações climáticas para o produtor de soja, especialmente nos municípios do centro-norte do nosso estado.  A região, até o momento, apresenta um regime de chuvas de verão abundante que, apesar de comum nesse período do ano, pode prejudicar o andamento da safra.

Segundo Cleiton Gauer, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), a safra 2021/22 não apresenta ainda grandes riscos de dano ou perda. “Apesar [dos efeitos] do La Niña, como chuvas excessivas em alguns municípios, de um modo geral, choveu uma quantidade positiva ao longo da safra”, afirma Gauer.

No entanto, segundo uma estimativa feita por meteorológicos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a previsão de chuva  para municípios centrais do Mato Grosso, a partir do final da próxima semana, pode preocupar produtores de soja.

“O ponto principal [para a colheita] é agora na segunda quinzena de janeiro,” informa o superintendente. “Há um excesso de chuvas que está projetado para acontecer. É preciso avaliar se, de fato, o regime terá um impacto grande na hora de colher.”

Segundo Gauer, há a possibilidade de que as chuvas, apesar de volumosas, sejam concentradas e espaçadas entre si. Essa opção tende a trazer menos danos na hora de colher, quando comparada às chamadas ‘invernadas’, períodos longos e ininterruptos de chuva.

Algumas áreas, no entanto, já apresentam danos logo na primeira dezena do ano, como problemas de qualidade e dificuldades de colheita, por conta da chuva. O volume colhido até o momento ainda é pequeno, mas o produtor tem de estar preparado para lidar com as quedas de chuva que estão por vir.

Chuvas intensas

Com um grande volume de chuva se aproximando, o produtor deve estar alerta para alguns pontos. O primeiro deles é na hora do trato cultural, que é quando são aplicadas práticas que proporcionam melhores condições para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Mesmo com a colheita próxima, há ainda um controle a ser feito em áreas tardias e que pode ser prejudicado por temporais. A entrada na lavoura com o equipamento, segundo Gauer, tende a ser mais difícil em dias chuvosos, atrapalhando as aplicações de controle de pragas e doenças.

Uma outra dificuldade que a chuva intensa traz é na hora de colher. Devido  ao excesso de água, as máquinas podem atolar, não dando compasso para a colheita e impedindo a evolução célere do procedimento. “O atraso da colheita da soja, inclusive, acaba prejudicando a safra do milho, atrasando sua semeadura,” complementa o superintendente do IMEA.

Por último, temos a perda da qualidade de grão, impactando diretamente a renda do produtor. Isso se traduz, segundo Gauer,  em mais descontos na receita bruta. O produtor pode ser penalizado, a depender não só do excesso de umidade, mas também do acúmulo de grãos avariados e ardidos, considerados inaptos para o comércio.

“Para o produtor se preparar para o próximo período de chuva, ele deve ficar de olho no clima para se organizar e, principalmente, preparar as primeiras áreas que ele vai dessecar, né?”, diz Gauer. “Daí para frente, é torcer para não chover tanto e colher o mais rápido possível.”

Estiagem no sul do país

 O fenômeno natural do La Niña tem afetado, de maneira mais intensa, regiões do nordeste, como a Bahia, e até mesmo sudeste do país, como Minas Gerais, com grandes temporais e áreas de alagamento. No sul, por sua vez, os estados brasileiros enfrentam períodos longos de estiagem, em especial o Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

A seca intensificada pelo La Niña, nestes dois estados, gerou grande impacto na produção brasileira de soja e milho. Tal desbalanço, segundo o especialista,  pode afetar na redistribuição da oferta e demanda de grãos entre os estados, além de significar, possivelmente, a necessidade do Mato Grosso  ter que suprir o mercado interno de milho, dando suporte à produção pecuária de outros estados.

“E isso também impacta, principalmente, na questão de preços internos,”, conclui Gauer. “Ainda é um pouco cedo, mas a gente já começa a observar esses movimentos”.