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Monitorar a cadeia produtiva da carne é grande desafio para o setor

Monitorar a cadeia produtiva da carne é grande desafio para o setorTodos os elos da cadeia devem seguir preceitos socioambientais. Foto: Embrapa

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Criminosos seguem manchando a imagem do agro brasileiro mundo afora. Um novo relatório da agência de notícias Repórter Brasil revela como documentos usados pelos frigoríficos para bloquear compras de bois ligados ao desmatamento ou trabalho escravo são facilmente adulterados, inclusive com a participação de funcionários públicos.

Isso ameaça o compromisso de gigantes do setor em garantir que, até o fim da década, nem um gado proveniente de áreas desmatadas será comprado.

O relatório Monitor 16 – De Olhos Fechados Para o Desmatamento investigou irregularidades na fiscalização da origem do gado que chega aos grandes frigoríficos brasileiros, como JBS, Marfrig e Minerva.

O resultado é que o rastreamento da cadeia produtiva do gado se revelou sujeito a todo tipo de fraudes, o que dificulta o monitoramento dos fornecedores, principalmente os indiretos.

“As violações vão desde esquemas para burlar os sistemas de controle dos frigoríficos até golpes envolvendo servidores públicos e hackers, que atuam de forma criminosa para apagar dos registros oficiais dados como as multas ambientais de fazendas fornecedoras”, diz a reportagem.

Conforme dados de 2020 publicados na revista Science, ao menos 17% das exportações de carne para a União Europeia com origem em fazendas na Amazônia e no Cerrado podem estar contaminadas pelo desmatamento ilegal. Isso porque  monitorar a origem do problema tem sido um grande desafio para o setor.

“Em Estados como Mato Grosso e Pará, responsáveis por 24,5% da produção nacional, a cadeia produtiva é fragmentada. O gado costuma passar por diversas fazendas até chegar ao abate”, aponta o relatório.

Isso quer dizer que as várias etapas pelas quais passa o animal (nascimento, cria, recria e engorda) podem envolver vários pecuaristas, mas somente aquele que transfere o gado da fazenda para o abate, os chamados fornecedores diretos, pode ser mapeado e monitorado pelos frigoríficos.

“O fornecedor direto compra (gado) de várias outras fazendas. Nos casos que analisamos, ele pode comprar de até dez, quinze fazendas diferentes. Esse fornecedor indireto está totalmente invisível. O índice de contaminação da cadeia é muito alto”, afirma Daniel Azeredo, procurador do Ministério Público Federal (MPF) e um dos idealizadores do chamado TAC da Carne, sigla para Termos de Ajustamento de Conduta (detalhes sobre a iniciativa mais adiante)

O objetivo da TAC da Carne é que todos os elos da cadeia de comercialização de produtos bovinos regularizem suas atividades e passem a adotar padrões de responsabilidade socioambiental.

De acordo com a Repórter Brasil, especialista afirmam que não faltam ao Brasil tecnologias e instrumentos legais para melhorar o monitoramento do setor. O problema é empenho político ou administrativo suficiente para sistematizar essa informações fragmentadas em uma plataforma transparente e eficaz.

No vizinho

Para se ter uma ideia das suspeitas de impunidades que rondam o setor, no Pará, nosso vizinho, nos últimos três anos, ao menos 91.238 cabeças de gado saíram de áreas griladas no estado. A quantidade encheria 2,5 mil caminhões trucks que, se colocados em fila, somariam 35 km de extensão, segundo informou a revista piauí.

Entre 2018 e 2021, as 31 empresas assinantes do TAC da carne no Pará adquiriram 81% das 91 mil cabeças de gado ilegal – 73.812 – por via indireta, ou seja, de frigoríficos que compram das fazendas griladas.

A revista informa que entre 2018 e 2021, seis dos dez maiores frigoríficos do Brasil compraram indiretamente gado oriundo de terras públicas griladas e desmatadas no Pará – esses grandes compram de pequenos frigoríficos, que por sua vez compram de fazendas em áreas griladas. A empresa JBS foi quem mais adquiriu animais – cerca de 21 mil. Com 12 mil comprados, a Marfrig ficou em segundo lugar. A Masterboi fechou o pódio – 8 mil cabeças de gado adquiridas.

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