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Ferramenta mostra onde espécies nativas dão mais lucro

Ferramenta mostra onde espécies nativas dão mais lucroFoto: TNC

Brasil lança plataforma que impulsionar investimentos verdes
Combate avança e desmatamento na Amazônia é o menor em 4 anos
Inovação é aposta de empresários para alavancar bioeconomia

Por André Garcia

Uma nova ferramenta da Embrapa promete baratear o reflorestamento e destravar investimentos em bioeconomia no Brasil. A metodologia cruza dados climáticos e topográficos para indicar áreas com alta aptidão ao cultivo de espécies nativas de valor ecológico e econômico. Na prática, isso mostra ao produtor onde vale mais a pena investir em projetos madeireiros, agroflorestais e de recuperação de pastagens degradadas.

O angelim-vermelho (Dinizia excelsa), por exemplo, apresenta até 81% de alta aptidão em áreas antropizadas — regiões já degradadas pelo uso humano, com potencial de recuperação produtiva. Já espécies como o marupá são consideradas “coringas” e podem ser utilizadas em diversas regiões.

Publicado recentemente pela revista internacional Forests, o trabalho reúne dados de mais de seis décadas e indica áreas com alta, média e baixa aptidão para o cultivo de 12 espécies nativas. Embora tenha sido desenvolvida com foco na Amazônia, a metodologia pode ser aplicada a outros biomas, abrindo caminho para políticas públicas e financiamento em diferentes regiões do país.

“É uma metodologia de planejamento com enorme potencial para embasar políticas públicas voltadas à restauração florestal, bioeconomia e adaptação climática. É ciência aplicada ao território”, diz a pesquisadora Lucieta Martorano, que liderou a equipe de cientistas responsável pelo projeto.

Financiamento

Com as linhas de crédito do Plano Safra 2025/2026, por exemplo, produtores rurais têm agora mais incentivos para apostar em estratégias de reflorestamento com espécies nativas. O RenovAgro, principal programa de financiamentos sustentáveis do crédito rural, teve aumento de R$ 7,68 bilhões para R$ 8,15 bilhões.

Entre seus subprogramas, o RenovAgro Florestas recebeu reforço de 62,5% nos recursos, ampliando a possibilidade de compra de mudas nativas e apoio à silvicultura de base ecológica. Na agricultura familiar, o Pronaf Verde também cresceu 46,9% na safra 2024/2025, chegando a R$ 2,4 bilhões. A maior parte desse volume foi contratada via Pronaf Bioeconomia, com R$ 2,1 bilhões.

Bioeconomia e serviços ambientais

Além de gerar renda com produtos madeireiros e não madeireiros, a silvicultura de nativas oferece benefícios como sequestro de carbono, regulação hídrica e preservação da biodiversidade. Isso também traz a possibilidade de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), previsto em lei desde 2021.

“Quando o país identifica com precisão onde e como reflorestar, cria melhores condições para atrair investimentos climáticos internacionais”, afirma Silvio Brienza Junior, pesquisador da Embrapa Florestas e coautor do estudo. Essas oportunidades também podem ser territorializadas.

Segundo estudo do Imazon, o bioma Amazônia abriga cerca de 29,7 milhões de hectares de áreas desmatadas com baixa aptidão agrícola. São regiões que, por não oferecerem boas condições para o cultivo de grãos, representam uma oportunidade concreta para a expansão da restauração florestal sem competir com a produção de alimentos. Esse dado reforça a viabilidade de políticas públicas voltadas à regeneração ambiental e ao sequestro de carbono em larga escala.

O levantamento mostra que os estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso concentram as maiores áreas de vegetação secundária em terras com baixa aptidão agrícola. Além disso, os dados indicam que essas áreas estão distribuídas majoritariamente em imóveis privados com CAR ativo, terras públicas não destinadas, assentamentos e propriedades em processo de regularização fundiária.

Melhores decisões

A metodologia de zoneamento desenvolvida pela Embrapa foi construída a partir de uma base com mais de 7,6 mil registros georreferenciados de espécies florestais nativas. Esses dados foram cruzados com variáveis climáticas, topográficas e geográficas coletadas entre 1961 e 2022.

O estudo identificou que espécies como angelim-vermelho, ipê-branco e parapará apresentam os maiores índices de alta aptidão topoclimática para cultivo na Amazônia, com 81%, 78% e 75%, respectivamente. Já o mogno-brasileiro aparece com 74% de áreas de alta aptidão, reforçando seu potencial produtivo em projetos de silvicultura. Outras espécies, como quaruba, tatajuba e freijó, mostraram predominância de aptidão média, com índices entre 54% e 67%, o que exige maior atenção ao manejo.

 

 

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