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Desmate ameaça exportações de carne de MT aos EUA

Desmate ameaça exportações de carne de MT aos EUAMato Grosso está no centro desse alerta. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Entre 2021 e 2023, as exportações de carne bovina do Brasil para os Estados Unidos cresceram 214%. Mas esse avanço comercial deve enfrentar uma nova barreira: a nova Lei Florestal dos Estados Unidos (Forest Act), que prevê a proibição da importação de produtos agropecuários ligados a áreas desmatadas, mesmo que legalmente.

Líder nacional no abate de bovinos, Mato Grosso está no centro desse alerta. Segundo relatório do Radar Verde que analisou o desempenho de frigoríficos na Amazônia Legal autorizados a exportar para os EUA, nenhuma planta mato-grossense atende aos critérios do projeto da Lei Florestal, que tramita no Congresso norte-americano.

Os cinco frigoríficos habilitados no Estado têm capacidade para abater mais de 3 mil cabeças de gado por dia e operam em áreas que somam 3,7 milhões de hectares de risco de desmatamento. A planta da empresa Vale Grande (Frialto), localizada no estado, é uma das mais expostas na região, com área de mais de 2 milhões de hectares.

“Áreas com maior risco de derrubada entre 2023 e 2025 devem ser uma preocupação para os frigoríficos. Sem ferramentas que visem ao controle robusto da origem animal, incluindo fornecedores indiretos, as empresas podem ser acusadas de contribuir com o desmatamento futuro, afetando a capacidade de obter financiamento e mercados”, ressalta o relatório.

Cenário nacional

No total, foram analisados 11 frigoríficos na Amazônia Legal, incluindo Mato Grosso, Tocantins e Rondônia. Essas plantas pertencem a seis empresas: JBS, Marfrig, Minerva, Vale Grande, Frigon e Cooperfrigu, que estão expostas a fatores de risco que abrangem 6,6 milhões de hectares de floresta.

De acordo com o levantamento, que considera dados de 2023, 90% delas tiveram avaliação “baixa” ou “muito baixa” em políticas de desmatamento zero. Além disso, nenhuma tem controle auditado de fornecedores indiretos e só 63% mostraram algum controle sobre fornecedores diretos.

“Embora algumas empresas frigoríficas tenham demonstrado que verificam se as fazendas fornecedoras diretas de gado estão livres de desmatamento, o mesmo não acontece quando avaliamos o controle das fazendas fornecedoras indiretas”, diz trecho do documento.

Crédito: Radar Verde

Vantagem competitiva

Mas a nova legislação não trata apenas de restrições. Para o setor, ela também pode ser encarada como uma oportunidade: quem investir desde já em boas práticas e rastreabilidade tem mais chances de manter o acesso ao mercado americano e ainda sair na frente da concorrência.

Dentro de 180 dias após a promulgação da Forest Act, uma lista de países sem proteções adequadas contra o desmatamento ilegal deve ser divulga. Esta lista considerará fatores como tendências de desmatamento, capacidade de aplicação da lei e incidências de violência contra comunidades indígenas e locais.

Apesar das restrições previstas, empresas que comprovarem origem livre de desmatamento podem ganhar espaço. O projeto prevê preferência nas compras públicas para commodities sustentáveis, com incentivo de até 10% no preço das ofertas aderentes à legislação, tornando esses produtos mais competitivos em licitações, por exemplo.

Lei aumenta pressão internacional

A versão mais recente da proposta da Lei Florestal dos Estados Unidos cita explicitamente os produtos da pecuária, entre as mercadorias associadas ao desmatamento. Em 2022, os EUA importaram do Brasil US$ 1,1 bilhão em carne bovina e couro, dos quais 95% estariam associados ao desmatamento ilegal.

A proposta ainda está em tramitação, mas reforça as incertezas sobre o futuro das exportações de carne, que vem ganhando espaço no mercado americano nos últimos anos. Segundo a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), só no primeiro semestre desse ano a comercialização foi de cerca de US$ 1 bilhão.

O cenário se agrava com a pressão do tarifaço de 50% anunciado recentemente pelo presidente americano, Donald Trump. Se mantido, o embargo pode aumentar o excedente de carne no mercado brasileiro e derrubar o valor da arroba de R$ 300 para R$ 250, conforme estimativas do setor.

 

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