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JBS, Minerva e Marfrig contribuem com destruição do Cerrado, diz estudo

JBS, Minerva e Marfrig contribuem com destruição do Cerrado, diz estudoDesmatamento é maior no Cerrado que na Amazônia. Foto: Ednilson Aguiar/Greenpeace

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Por André Garcia

A produção de carne bovina pelos três maiores frigoríficos do mundo foi novamente relacionada ao desmatamento ilegal, desta vez no Cerrado brasileiro. Um levantamento da Global Witness mostra que quase metade das fazendas que fornecem gado para JBS, Minerva e Marfrig cometeu crimes ambientais no bioma.

Como temos mostrado, ao contrário da Amazônia, o Cerrado tem a maior parte de sua área desprotegida pela Legislação, o que resultou em consecutivos aumentos nas suas taxas de desmate. Conforme o estudo da Global Witness, publicado na semana passada, a situação é impulsionada pelo comércio de gado.

Embora o bioma se estenda por 11 estados, os pesquisadores concentraram seus esforços em Mato Grosso. Além de ser dono do maior rebanho bovino do País, o estado abriga tanto o Cerrado quanto a Amazônia, tendo como seus maiores frigoríficos em operação justamente JBS, Minerva e Marfrig.

“Uma área combinada de floresta maior que Chicago foi derrubada dentro de fazendas que fornecem para as empresas de carne bovina em Mato Grosso – 99% dela ilegalmente, por falta das licenças necessárias para desmatamento conforme a lei brasileira”, diz trecho do estudo.

De acordo com a Global Witness, o desmatamento vinculado aos três frigoríficos foi quase cinco vezes maior na área do Cerrado do estado do que em seu território amazônico, onde as empresas têm acordos legais para monitorar seus suprimentos.

Além disso, um em cada três bois (36%) que as empresas compraram ali veio de fazendas com terras desmatadas ilegalmente. Vale destacar que os empreendimentos fornecem carne para todo o mundo e que, somente em 2022, faturaram juntos uma soma de US$ 98,15 bilhões.

Crédito: Global Witness

Questionada, a Marfrig disse que “não adquire animais de áreas desmatadas” e que todos os seus fornecimentos devem atender às regras de desmatamento do Ministério Público Federal brasileiro. A JBS apresentou o mesmo argumento e disse ter removido 14% das fazendas citadas por não conformidade.

Já a Minerva alegou que não há desmatamento ilegal em suas cadeias de suprimentos e autoridades brasileiras disseram que combater o desmatamento no Cerrado é particularmente difícil porque a regulamentação é definida em nível estadual, em vez de ser governada por leis nacionais.

Relevância do estado

Mato Grosso possui o maior rebanho bovino brasileiro, com cerca de 32,8 milhões de bois, ou nove por habitante. Isso faz com que o estado tenha um papel crucial no comércio global de carne bovina, já que também é um dos maiores exportadores de carne bovina do País.

Ao mostrar que o estado é o único do País situado em três biomas (Amazônia, Pantanal e Cerrado), o levantamento reforça que a devastação ali tem implicações globais para as mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade, já que o bioma abriga 5% das espécies da Terra e serve como um amortecedor contra o aquecimento do planeta.

“Com uma indústria pecuária conhecida por impulsionar o desmatamento no Brasil e compradores mundiais envolvidos neste comércio, não é coincidência que Mato Grosso também tenha o segundo maior nível de perda de cobertura arbórea do Brasil, de acordo com os dados mais recentes do Global Forest Watch”, destaca a pesquisa.

Metodologia

A Global Witness rastreou os movimentos do gado até os frigoríficos usando as Guias de Transporte Animal (GTAs), que contêm informações como a origem do gado e os nomes do comprador e do vendedor. Os registros, segundo a publicação, ficaram disponíveis entre janeiro de 2018 e julho de 2019.

Na sequência, os dados foram cruzados com informações públicas da Agência Sanitária do Estado de Mato Grosso (INDEA) e, em seguida, com um banco de dados estadual de fazendas e informações de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), para analisar se havia evidências de corte de árvores nas fazendas.

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