Por André Garcia
A expansão agropecuária foi responsável por 97% do desmatamento registrado no Brasil entre 2019 e 2024, segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD), lançado nesta quinta-feira, 15/5. A análise foi feita com base em 286 mil alertas validados pela iniciativa MapBiomas Alerta, cobrindo todos os biomas brasileiros.
Segundo o levantamento, em 2024, a tendência se manteve e a maioria dos alertas teve origem na substituição de vegetação nativa por pastagens ou lavouras, especialmente na Amazônia e no Cerrado, que juntos concentraram quase 83% da área desmatada. Ao longo do ano, 1,24 milhão de hectares de vegetação foram perdidos.
“Em 2024, 43% da área desmatada coincidiu com autorizações de supressão. Mas esse número não diz tudo: o fato de ter autorização não significa que o desmatamento seja sustentável ou que os critérios legais estejam sendo cumpridos”, explicou o coordenador do Programa Transparência e Justiça Climática
Os dados incluem tanto o desmatamento autorizado quanto o ilegal. Mas, como já mostramos, embora parte dessas áreas tenha licenciamento, o avanço sobre vegetação nativa — mesmo dentro da legalidade — precisa ser controlado para evitar impactos sobre recursos hídricos, clima e biodiversidade.
“No Pantanal, por exemplo, 99% das áreas desmatadas estão em propriedades privadas registradas no CAR. Isso mostra como a responsabilização e a rastreabilidade são possíveis, e por isso precisam ser exigidas com mais rigor”, destacou o representante da equipe do Pantanal do MapBiomas, Eduardo Rosa.
Sendo assim, para o produtor rural, esse dado acende um sinal de alerta sobre a necessidade de práticas que equilibrem produtividade com conservação, diante de exigências cada vez maiores de rastreabilidade.
Diante disso, os especialistas ressaltam a necessidade de políticas públicas e ações privadas voltadas à produção sustentável.
Outros vetores
Outros vetores foram identificados em proporções menores, mas com distribuição geográfica específica. O garimpo, por exemplo, concentrou 99% de sua área desmatada na Amazônia Legal. Já os empreendimentos de energia renovável, especialmente eólicas e solares, responderam por 93% do desmatamento relacionado a esse setor na Caatinga.
O Cerrado foi o bioma com maior área desmatada por expansão urbana em 2024, com 45% do total nacional. O dado acende alerta para os impactos da urbanização em áreas tradicionalmente agrícolas e de vegetação savânica.
Desmatamento em áreas protegidas recua, mas ainda preocupa
Embora representem parcela pequena da área total, as Terras Indígenas e Unidades de Conservação também sofreram perdas no ano passado. O MapBiomas validou 15.938 hectares desmatados dentro de TIs, uma queda de 24% em relação ao ano anterior. A área representa 1,3% do total nacional.
Esses territórios são importantes para manter corredores ecológicos e estabilidade climática, influenciando inclusive regimes de chuvas nas áreas produtivas do entorno.
Apesar disso, nas Unidades de Conservação, foram registrados 57.930 hectares desmatados — uma redução de 42,5%. Entre as áreas mais pressionadas estão a APA Triunfo do Xingu (PA), com 6.413 hectares, e a APA da Serra da Ibiapaba (CE/PI), com 6.145 hectares.
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