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Agrotóxicos deixam água do Rio Araguaia imprópria até para animais

Agrotóxicos deixam água do Rio Araguaia imprópria até para animaisÁgua não seria considerada potável pelos europeus. Foto: IDEFLOR-BIO

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Por André Garcia 

Um estudo publicado nesta semana pela revista Environmental Advances mostra que as porções média e alta do Rio Araguaia concentram níveis de pesticidas que tornam a água imprópria para o consumo humano e até mesmo animal. No total, oito substâncias foram encontradas em todas as sub-bacias da região, situada no centro do Cerrado.

O Rio flui por aproximadamente 2.100 km desde a Serra do Caiapó, em Goiás, avançando pelos estados do Mato Grosso, Tocantins e Pará até desaguar no Rio Tocantins, que se conecta à Baía do Marajó. Estas coordenadas dão uma dimensão do impacto que o veneno pode trazer à saúde pública e ao próprio agronegócio.

“Considerando que a água dessas sub-bacias, bem como do rio Araguaia, serve como fonte de abastecimento em vários municípios, é crucial destacar que cinco dos oito pesticidas registrados têm sido associados à doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos edistúrbios endócrinos” diz trecho da pesquisa.

Os pesticidas em questão são atrazina, carbendazim, cianazina, imidacloprida, 2,4-D, clomazone, clorpirifós etil e eimazalil, todos eles encontrados em quantidade superior à que é aceita na União Europeia. Ou seja, a mesma água que vem sendo consumida por comunidades inteiras no Brasil sequer seria considerada potável pelos europeus.

Esta é uma das principais preocupações destacadas no estudo, já que, segundo os cientistas, a legislação ambiental brasileira não especifica limites máximos de concentração para pesticidas na àgua, o que resulta em cenários como este, de altas concentrações de herbicidas, fungicidas e inseticidas em fontes de água potável.

“Ao considerar os valores recomendados pela Comunidade Europeia, que permite uma concentração máxima de 0,1 μg L−1 [uma micrograma por litro] para qualquer pesticida na água potável, torna-se evidente que a água em muitas das sub-bacias estudadas pode não atender aos padrões de água potável.”

A pesquisa, realizada entre 2018 e 2019, indentificou quantidades mais elevadas de clomazona, clorpifirifos-etil e 2,4-D nas águas, com médias de microgramas por litro de 0.268 µg L⁻¹, 0.165 µg L⁻¹ e 0.122 µg L⁻¹ respectivamente.

Este não é o único dado alarmante. Em 2023 foi constatada a aexistência de 27 agrotóxicos na água consumida por moradores de 210 municípios brasileiros. Além disso, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, (FAO) apontou que o Brasil é o líder mundial no uso de veneno, tendo aplicado 719,5 mil toneladas nas lavouras em 2021.

Conduzido por pesquisadores das universidadesFederal e Estadual de Mato Grosso, Federal de Goiás e Federal de Santa Maria(RS), o trabalho também evidencia uma ameaça à biodiversidade aquática, já que os pesticidas amostrados foram associados a anomalias no desenvolvimento ontogenético, doenças e mortalidade de organismos.

“Em ecossistemas aquáticos, os pesticidas têm sido associados a uma redução na abundância de fitoplâncton e zooplâncton, bem como a uma diminuição na produtividade primária, o que tem consequências diretas sobre as funções do ecossistema”, pontuam os cientistas.

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