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App revela se carne tem relação com desmatamento e trabalho escravo

App revela se carne tem relação com desmatamento e trabalho escravoAplicativo está disponível para download gratuito. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Considerando o enorme impacto causado pela cadeia alimentar ao meio ambiente e a saúde humana, nada mais prudente que saber de onde vem a comida que abastece as nossas mesas e as de nossas famílias. A tarefa seria trabalhosa, não fosse a tecnologia.  Hoje, por meio de aplicativos como o “Do Pasto ao Prato”, é possível aumentar a transparência na cadeia da carne e apoiar o consumo consciente no Brasil.

Fruto de iniciativa não governamental e sem fins lucrativos, a plataforma compila dados de produtos disponíveis nos supermercado, mostrando como se deu o processo produtivo que antecedeu sua chegada aos freezers e prateleiras. É o que explica um dos desenvolvedores da ferramenta, o pesquisador Erasmus zu Ermgassen, doutor pela Universidade Católica de Louvain (Bélgica).

“O sistema alimentar tem um impacto enorme no meio ambiente: 90 % do desmatamento na região tropical é impulsionado pela agropecuária. 62% das espécies nativas são ameaçadas pela agropecuária e 35% das emissões de gases de efeito estufa estão relacionadas à alimentação”, disse durante apresentação do aplicativo na Faculdade de Saúde da Universidade de São Paulo (Usp), nesta terça-feira (29).

A atividade também soma quase metade dos registros de trabalho análogo à escravidão entre 1995 e 2020 no Brasil e está associada a diversas doenças de causa alimentar, como diabetes, cânceres e problemas cardiovasculares.

Ao conectar frigoríficos aos mercados varejistas, o aplicativo verifica, por exemplo, multas pagas por frigorífico por má higiene ou desrespeito ao bem-estar animal, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os indicadores revelam ainda a área de desmatamento na zona de compras do empreendimento e o número de fornecedores autuados por condições ilegais de trabalho.

“A falta de transparência impede o consumo consciente e, ao mesmo tempo, diminui a responsabilização das empresas que comercializam estes produtos. Ninguém sabe de onde vêm os produtos que compra”, afirma Erasmus.

Mato Grosso

Divididas entre muito bom, bom, podia ser melhor, ruim e muito ruim, as classificações que compõe o aplicativo ajudam a entender o cenário da pecuária no Mato Grosso. Com relação ao desempenho sanitário e bem-estar animal, por exemplo, nosso Estado está entre os nove que não responderam ao pedido de informação das multas adquiridas por frigoríficos, por meio do Sistema Eletrônico de Informações ao Cidadão (e-SIC).

Sobre a ocorrência de trabalho escravo nas cadeias de fornecimento dos frigoríficos, o mapa mostra que há apenas dois pontos classificados como “ruins”, localizados no extremo Norte do Estado. Com relação ao desmatamento nas zonas de compras dos frigoríficos, contudo, as marcações de “muito ruim” e “ruim” sobrepõe as de “bom” e “muito bom”.

O App

As informações são fornecidas a partir da inserção do número do selo do produto no aplicativo. Deste modo, é possível obter, para cada frigorífico, uma avaliação da sustentabilidade socioambiental da sua cadeia de produção por meio de emojis.

Desde o lançamento da última versão, em agosto de 2021, o app contabiliza 1466 downloads com 434 usuários ativos. Há 24 estados onde os produtos foram digitalizados por meio do aplicativo e 1773 produtos já foram vinculados a uma loja.

O “Do pasto ao prato” está disponível para download gratuito na Apple Store e na Google Play.

A expectativa dos criadores é que, ao dispor de mais informações, setores privados, públicos e a sociedade civil poderão fazer intervenções mais efetivas para a criação de uma cadeia de alimentos mais ética e sustentável.

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