HomeEcologia

Avanço da cultura da soja coloca animais em risco no Cerrado

Avanço da cultura da soja coloca animais em risco no CerradoNo bioma, 302 espécies de animais estão ameaçadas Foto: Wikimedia Commons

Programa do Mapa fortalece agropecuária pantaneira
COP 27: Desmate pode reduzir 1/3 da vazão das águas dos rios do Cerrado
Crise hídrica no Cerrado está no centro do embate da novela da Globo

Entre os anos de 1985 e 2021, 26,5 milhões de hectares do Cerrado foram desmatados, uma redução de 20% da sua vegetação nativa. Segundo dados do MapBiomas, um projeto desenvolvido por uma rede de ONGs, universidades e empresas de tecnologia, nesse período, a cobertura vegetal do bioma caiu de 67% para 53,1%. Atualmente, o Cerrado ocupa o terceiro lugar no ranking de seis biomas com mais espécies de animais que possui algum grau de ameaça: 302 (6,3% das avaliadas). As informações são do site Um Só Planeta.

Das 302 espécies, 47 estão Criticamente em Perigo; 35, Em Perigo; e 64 são classificadas como Vulneráveis. Os números são do Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O principal fator que vem colocando em risco as espécies do Cerrado é o desmatamento e a consequente destruição de habitats. Esta é causada pela abertura de novas áreas para a agropecuária, especialmente para a expansão das lavouras de soja.

O MapBiomas informa que a sojicultura foi a que mais cresceu no bioma, com a área plantada passando de 0,7% do total para os atuais cerca de 10%. Isso ocorreu por conta da devastação do ambiente natural.

“De longe, a principal causa dessa devastação é a abertura de novas áreas para lavouras e o avanço da agricultura mecanizada. A devastação vem acontecendo rapidamente. Só no ano passado, quase oito mil quilômetros quadrados de Cerrado foram desmatados. Foi a maior taxa registrada desde 2019. Um aumento de 43 % em relação a 2022”, conta o biólogo Cristiano de Campos Nogueira, pesquisador de apoio científico à Coordenação de Avaliação do Risco de Extinção das Espécies da Fauna (Cofau), do ICMBio.

O biólogo ressalta que além do avanço da fronteira agrícola, com o seu consequente desmatamento, o Cerrado enfrenta a falta de informação e falta de reconhecimento pela população.

“Pensam, o Cerrado não tem tantas espécies assim, não é importante, é pobre em animais, a fauna é generalista. Isso é algo que também permeia os meios de comunicação, as pessoas, as escolas e até os pesquisadores, em alguns aspectos. Há quase um preconceito contra o bioma”, explica.

Nogueira conclui que existe também um preconceito, um viés em favor dos ambientes florestais.

“Isso é uma questão cultural. No Brasil, em Portugal, a floresta é mais valiosa, o campo, as savanas são ambientes secundários”, diz.

Ele acredita que isso também acontece em relação ao Pampa e a Caatinga. No caso do primeiro, é comum as pessoas dizerem que só tem grama e não serve para nada.