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COP-27: Agro tem vantagem econômica nas mãos se trilhar caminho da recuperação florestal

COP-27: Agro tem vantagem econômica nas mãos se trilhar caminho da recuperação florestalEstima-se que 44% das emissões brasileiras venham do desmatamento, que já atinge quase 20% da área total amazônica.

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Por André Garcia

A dois dias da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-27), a agropecuária brasileira encara mais de perto o nada fácil desafio de reinventar a maneira de produzir alimentos para neutralizar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2050, um compromisso já firmado pelo governo. Os meios para atingir o feito esbarram em questões econômicas importantes e estão entre as pautas prioritárias dos representantes do Brasil no evento, que ocorre entre 6 e 18 de novembro, em Sharm el Sheikh, no Egito.

É para lá que o cientista Paulo Artaxo, um dos pesquisadores mais influentes do mundo na área de meio ambiente, está a caminho.  Em entrevista ao Gigante 163, ele lembra que o agronegócio é responsável por 30% das emissões de gases de efeito estufa, o que coloca o setor no centro do debate e deixa aos agropecuaristas duas alternativas:  assumir o protagonismo no controle do aquecimento global ou arcar com a instabilidade e o lastro de prejuízos causados pelas mudanças climáticas que atingirão em cheio o país.

“O mundo caminha para se tornar, em média, 3° mais quente. Nas áreas continentais, onde a agricultura está estabelecida, o aquecimento pode chegar a 4°, o que vai afetar profundamente a produtividade agropecuária, em particular, em países como o Brasil, Índia e a maior parte da África. O impacto previsto é fruto tanto do aumento da temperatura, quanto da redução da chuva, que, na verdade já é observado no Brasil central”, afirma.

Artaxo é filho de escrivão com uma dona de casa. Ex-office boy do escritório do pai, ele se formou em Física. Tornou-se referência internacional no estudo de aerossóis atmosféricos, tendo como áreas de interesses o meio ambiente, especialmente amazônico, mudanças climáticas/aquecimento global e poluição do ar, em que é uma autoridade.

“Todos os países estão correndo para atingir a neutralidade de emissões de gases de efeito estufa e a neutralidade climática. Mesmo porque, há impacto em muitos setores da economia e a queda na produtividade esperada para agropecuária é muito significativa. Então, precisamos de um sistema coordenado de governança que possa dirigir a construção de uma sociedade mais sustentável, com crescimento econômico” afirma.

Recalculando a rota

Considerando então sustentabilidade e desenvolvimento, manter as florestas em pé  se torna uma vantagem estratégica brasileira que pode gerar ganhos econômicos, seja com o mercado de carbono ou com a restauração ecológica e o reflorestamento em larga escala. O cientista, contudo, pondera.

“Dadas as condições e a tecnologia disponível hoje, o sequestro de carbono ainda é muito limitado. A restauração ecológica e o reflorestamento em larga escala, por outro lado, são caminhos mais viáveis, mas esbarram na expansão de áreas para agropecuária.”

A cautela tem fundamento. Estima-se que 44% das emissões brasileiras venham do desmatamento, que já atinge quase 20% da área total amazônica. Na COP-26, o país já havia se comprometido a zerar a derrubada até 2028. Em geral, os países estão longe de cumprir seus compromissos no Acordo de Paris, e as emissões continuam aumentando, apesar da recomendação para redução de, pelo menos, 7% ao ano até a meta de neutralidade em 2050.

É neste cenário que o agronegócio brasileiro precisa repensar o modelo e estabelecer novos rumos.  Na opinião de Artaxo, sob governança séria e empenhada, esta mudança, assim como o alcance  das metas definidas na Conferência, são absolutamente factíveis.

“Tem que haver um novo equilíbrio entre a produção agrícola e as áreas que vão ser aplicadas para recuperação ecológica e para reflorestamento em larga escala. É aí que o Brasil tem uma vantagem estratégica enorme. Nenhum outro país no mundo tem uma quantidade de áreas que podem ser aproveitadas para estes fins como o Brasil. Nenhum outro país tem potencial para reduzir tanto suas emissões em tão pouco tempo e com enormes benefícios ambientais”, conclui.

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