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Desmatamento é pedra no sapato do governo e do agro

Desmatamento é pedra no sapato do governo e do agroAgro lida com consequências causadas por desmatadores. Foto: Agência Brasil.

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Por André Garcia

A preocupação com a conservação dda natureza aumenta à medida em que a cobrança por sustentabilidade nas cadeias de produção fica mais rigorosa, fazendo com que riscos ambientais se tornem também riscos econômicos. Na Semana do Meio Ambiente, a pauta reforça o longo caminho que as iniciativas pública e privada devem percorrer para erradicar esse fantasma.

Mesmo com a redução do desmatamento na Amazônia Legal no acumulado de janeiro a abril de 2023, na comparação com o mesmo período do ano passado, no Cerrado, a situação é alarmante. A devastação registrada no período foi a maior dos últimos cinco anos, alcançando 2.133 km², segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A questão é uma pedra no sapato do Governo Federal, que vem insistindo no discurso de construção de uma economia verde. Também é indigesta ao agronegócio, que continua a ser associado à prática, mesmo produzindo majoritariamente a partir de práticas sustentáveis, tendo conseguido assim aumentar a produção e diminuir a área utilizada.

Foi o que explicou em entrevista ao Gigante 163, o consultor jurídico e de meio ambiente da Coordenação de Sustentabilidade da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Rodrigo Justus.

“Esta é uma questão criminosa, caso de polícia e dos órgãos ambientais. Essas pessoas, que são minoria, vêm prejudicando a imensa maioria dos produtores, criando barreiras comerciais e gerando gastos para quem trabalha corretamente, já que essas verificações e comprovações custam dinheiro”, afirma.

Para ele, o agro já lidera o debate “verde”, seja por ser a principal atividade da balança comercial do País, ou por depender diretamente da saúde do solo e do equilíbrio do regime de chuvas para se desenvolver.  Neste contexto, cita a modernização do setor justamente no Cerrado.

“Há 30 anos não era possível desenvolver agricultura no Cerrado. Hoje temos uma das maiores produções do País ocupando menos área. Para se ter ideia, 99% do algodão vem do Cerrado, além da maior parte do milho e da soja, que são os principais produtos de exportação. Há ainda um potencial enorme para a geração de biocombustíveis”, conta.

Ao passo em que estes números se destacam, o aumento da devastação também chama a atenção. No primeiro quadrimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2022, a porcentagem chega a 14,5%. É como se o bioma perdesse uma área equivalente à cidade de Natal (RN) toda semana.

O resultado inclui bloqueios a financiamentos, mais exigências sobre as comprovações ambientais, a construção de uma imagem negativa do setor e o embargo a produtos oriundos destas áreas, como o determinado pela União Europeia recentemente.

“Combater o desmatamento ilegal é o dever de casa do Brasil. Outra ação necessária é o benchmarking, um processo de estudo de concorrência, que faz uma análise mais profunda das melhores práticas. Assim teremos condições mais justas para comparar nossos produtos com os europeus”, explica Rodrigo.

Outro obstáculo a ser superado são as queimadas, que já começam a castigar a Amazônia. Somente em maio, foram contabilizados 1.692 focos, o segundo maior valor para o período desde 2005, só perdendo para ano passado, quando houve 2.287  registros no mês.

Os dados são do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que aponta ainda que os estados com maior número de focos são Mato Grosso, Pará e Roraima.

Segurança hídrica e segurança alimentar

Desmatamento causa insegurança hídrica e alimentar. Foto: Agência Brasil

De acordo com o Inpe, nas últimas décadas o Cerrado perdeu mais de 50% de sua cobertura original. Cerca de 80% dos alertas de desmatamento ocorreram no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, na região chamada Matopiba, principal fronteira de expansão agrícola no Brasil e uma das grandes frentes de destruição de biomas do mundo.

O bioma é o principal responsável pela segurança hídrica do País, por abrigar importantes bacias hidrográficas e os maiores reservatórios de abastecimento de água das grandes cidades. Além disso, depende do regime de chuvas estável para garantir produtividade na própria atividade agrícola.

Ou seja, a segurança alimentar também está diretamente relacionada à conservação da região, onde, nas últimas quatro décadas, as atividades agrícolas expandiram-se 508%, passando de 4 milhões de hectares para quase 25 milhões de hectares. Os dados são de levantamento do MapBiomas referente a ocupação e uso da terra no Brasil.

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