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PPCerrado: agro está no centro do debate para elaboração de plano

PPCerrado: agro está no centro do debate para elaboração de planoSetor perde rentabilidade com desmatamento. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Debates sobre segurança hídrica, cenários de sustentabilidade e ações estratégias para o controle do desmatamento, colocaram o agronegócio no centro do debate durante o Seminário Técnico-Científico de Análise de Dados do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado, nesta terça-feira,11/7.

Realizado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o encontro garantiu informações que vão subsidiar a formulação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado), que tem lançamento previsto para outubro deste ano.

Ao comentar os dados sobre a dinâmica do desmatamento e do fogo no bioma, a ministra da Agricultura, Marina Silva, falou sobre iniciativas de combate já em andamento e destacou o papel da agropecuária na resolução do problema.

“A agenda ambiental é uma agenda de altíssimo investimento. Já há uma tendência de queda do desmatamento na Amazônia e o agronegócio continua crescendo. Não é incompatível o crescimento econômico com o combate às ilegalidades. Isso desmonta a tese de que emperramos a dinâmica de desenvolvimento”, disse.

A ministra Marina Silva durante o Seminário técnico-científico. Foto: Semad

O futuro da produção agrícola

A expectativa é que a produção agrícola aumente no Brasil. Projeções do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apontam para porcentagens de 43% a 65% na próxima década. O aumento da produtividade pode vir às custas expansão de área ocupada, que pode chegar a 51% a mais no Cerrado.

De acordo com a pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Juliana Davis, é preciso considerar que o desmatamento também é prejudicial ao agro. Para se ter ideia, as perdas potenciais decorrentes da devastação, considerando o período de 2006 a 2019, chegam a quase U$1 bilhão no caso da soja e do milho.

“A gente se pergunta como ainda é sustentável economicamente a expansão da soja em regiões como o Matopiba que já tem um estresse hídrico e vem passando por alterações climáticas.

Um dos efeitos negativos para o setor, é que a soja já começa a ser plantada em áreas marginais.

“O que nos dá uma dica sobre isso é o preço da terra. O valor no Matopiba é mais baixo que em outras regiões do Centro-Oeste em comparação ao preço da área com vegetação nativa. Então é rentável comprar uma área de vegetação nativa, transformá-la em uma área agrícola e ter esse investimento em agricultura”, afirmou.

Dinâmica da agropecuária

No Matopiba, o desmatamento aumentou 52% na última década. Neste contexto, os mesmos municípios onde houve expansão da soja, são os que tiveram a maior perda líquida acumulada de vegetação. É o caso de Baixa Grande do Ribeiro, onde o avanço do grão no período foi de 150 mil hectares, coincidindo com a perda de 168 mil hectares.

Ao apresentar estes dados, a representante do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Fernanda Ribeiro, também apontou que a agropecuária pode ser uma importante aliada.

“É muito importante priorizar as políticas de incentivo à conservação e à produção sustentável, além do combate ao desmatamento em áreas privadas, além do Código Florestal, principalmente na região do Matopiba”, comentou.

Ameaça hídrica

Sobre a realidade hídrica do bioma, ameaçada pelo desmatamento, o diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Salmona, destacou que o bioma é fundamental para o abastecimento hidrelétrico do País, além de concentrar 3.427 nascentes que abastecem a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga e a Mata Atlântica.

Seguindo o ritmo atual, estima-se que, em 2050 haverá apenas 47% do bioma em pé.

“O protagonista da diminuição da vazão dos rios do cerrado é a ocupação agrícola, em especial a que envolve os pivôs centrais. O abastecimento público e o energético ficam comprometidos nesses cenários tendenciais.”

As soluções para impedir a crise incluem o estímulo ao uso de pastagens degradadas, monitoramento mais rigoroso, incentivos à produção agroextrativista e uma posição de Estado em que o bioma tenha o mesmo reconhecimento que a Amazônia, sendo incluído, inclusive em legislações como a da União Europeia.

“Precisamos perceber a importância de legislações como a da União Europeia, que hoje ainda aceitam a compra de commodities agropecuárias vindas do desmatamento do Cerrado, porque isso pode impulsionar ainda mais o aumento do desmatamento.”

Preocupação

Como já mostrado pelo Gigante 163, o desmatamento no bioma vem crescendo ao longo dos últimos anos, tendo chegado a 10.700 km² em 2022. Somente no primeiro semestre de 2023, foram gerados alertas para 4.407 km², 21% a mais do que o mesmo período do ano anterior e quase duas vezes mais do que o registrado para a Amazônia (2.649 km²).

Segundo dados apresentados durante o seminário, 86% do desmatamento registrado no Cerrado em 2022 aconteceu de forma ilegal.

Matopiba concentra devastação. Crédito: Inpe

Principais pontos de queimadas

Também já noticiada por nós, a devastação está concentrada na região do Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Juntos, os estados respondem por 81% dos 4.408 km² derrubados nos últimos seis meses. O cenário das queimadas foi comentado pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas (Inpe), Fabiano Morelli.

“Nosso sistema já aponta 23% dos focos ocorrendo em Tocantis seguido do Maranhão. A sazonalidade é bem marcada e a situação deste ano tem mostrado ocorrência de fogo acima da média histórica em todos os meses do semestre. Estamos vindo em uma média alta para este ano.”

Autorização de Supressão Vegetal

Durante o encontro, também foram apresentadas propostas de ação, como o aprimoramento nos sistemas de Autorização de Supressão Vegetal (ASV) e aumento para 35% na área total das propriedades rurais que precisa ser preservada. Atualmente, essa porcentagem é de 20%.

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