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Emissões de CO² subiram 122% em 2019 e 2020, na Amazônia

Emissões de CO² subiram 122% em 2019 e 2020, na AmazôniaDesmatamento e extraçaõ de madeira ajudaram a causar auemnto. Foto: Ibama

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Ameaça ao agro: sudeste amazônico concentra 40% do CO2 que deveria ser liberado até 2100

Por André Garcia

As emissões de gás carbônico na floresta Amazônica tiveram aumento de 89% em 2019 e de 122% em 2020, em comparação à media registrada entre 2010 e 2018. A alta é atribuída ao declínio na aplicação de leis ambientais observado no Brasil, que, no período analisado, apresentou queda de 42% na aplicação de multas e de 81,5% no pagamento das sanções.

Os números foram apresentados nesta quarta-feira (23) pela pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais, Luciana Gatti. Desde 2010, ela e sua equipe vêm coletando amostras de ar sobre a Amazônia, a fim de monitorar a quantidade de CO2 que a floresta absorve.

“A ideia é entender como essa mudança de políticas públicas afetou a floresta. Existem áreas onde o desmatamento já chega a 30%, por conta disso chove menos e a temperatura é mais alta”, disse.

De acordo com Luciana, o sudeste do bioma, que corresponde a parte sul do Pará e o norte de Mato Grosso, é a região mais crítica, onde já se confirma um cenário muito próximo ao ponto de não retorno. Para se ter ideia, nos últimos 40 anos, a temperatura ali subiu 3,1º nos meses de agosto e setembro.

“Estou falando da temperatura média entre todas as horas do dia. Imaginem o quanto ela cresceu no meio do dia”, disse a pesquisadora

Ameaça

A equipe identificou aumento médio de 79% no desmatamento (82% em 2019 e 77% em 2020) e de 28% na área queimada (14% em 2019 e 42% em 2020). Além disso, em uma década, a exportação de madeira cresceu 700% no período, assim como a área plantada de soja (68%), milho (58%) e a da pecuária, com crescimento de 14% no rebanho bovino.

Ou seja, a expansão dessas commodities foi feita às custas da devastação.

As condições de degradação, segundo Luciana, representam um estresse para as plantas nativas, que fazem menos fotossíntese, hibernam mais e diminuem o ritmo de trocas de gazes. Isso porque, elas fazem parte de uma vegetação própria para uma floresta tropical úmida, que tem bastante acesso à água e exposição a temperaturas mais amenas.

“Conforme estas condições deixam de existir, as espécies morrem e são substituídas por outras que que não jogam tanto vapor na atmosfera para fazer chuva e resfriar a temperatura. E é essa dinâmica que faz do Brasil um país tão produtivo na agricultura. Então estamos afetando a condição básica na qual toda a economia está estruturada.”

Metodologia

Para mensurar o aumento das emissões e descobrir suas causas, os pesquisadores coletaram amostras de CO2 em 742 voos realizados em quatro diferentes locais na floresta tropical. O resultado das medições foi então comparado com dados oficiais de desmatamento e queimadas entre 2010 e 2020.

Além de cientistas do Inpe, o trabalho também é assinado por profissionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outras instituições nacionais e estrangeiras.

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