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Há um mês em chamas, Cristalino já perdeu área de 5 mil campos de futebol

Há um mês em chamas, Cristalino já perdeu área de 5 mil campos de futebolEmpresa agropecuária quer acabar com o parque. Foto: João Paulo Krajeswki

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Por André Garcia

Mais de 5 mil campos de futebol. Esta é área atingida pelo incêndio florestal que há um mês vem destruindo os Parques Estaduais Cristalino I e Cristalino II, no norte do Mato Grosso (MT). A unidade de conservação tem ao todo 184.900 hectares, dos quais 5.080 já foram consumidos pelo fogo desde o dia 14 de agosto.

As chamas que atingem o parque, localizado entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo, divisa entre Mato Grosso e Pará, já invadiram áreas do seu entorno e destruíram outros 1.800 hectares de propriedades rurais. Os dados são do projeto Observatório Socioambiental de Mato Grosso (ObservaMT).

À reportagem do Gigante 163, o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso (CBM-MT) explicou que desde a detecção dos primeiros focos de incêndio, no dia 14 de agosto, são realizadas ações de combate.

Neste momento cinco equipes estão na região e contam com apoio de uma Brigada Estadual Mista de Nova Bandeirantes e uma Brigada Municipal Mista de Nova Monte Verde. Além disso, a região é monitorada via satélite na Sala Descentralizada VII, em Alta Floresta, e no Batalhão de Emergências Ambientais (BEA), em Cuiabá.

“Importante destacar que o parque possui mata fechada e terreno montanhoso, o que dificulta as ações, mas as equipes trabalham no combate direto das chamas com sopradores e construção de aceiros. O uso de uma aeronave está sendo estudado”, informou a corporação.

Aeronave

Conforme estudo realizado pelo BEA, a partir da dinâmica do fogo apontada por imagens de satélite, o fogo teve origem em propriedades privadas. As causas, contudo, são investigadas pela Polícia Civil, que suspeita que a tragédia tenha sido causada por uma aeronave que pousou na região.

Segundo o Observatório, até hoje não foi registrada a presença de instituições públicas de defesa do meio ambiente ali. Assim, foi criada uma Brigada de Combate ao Fogo por iniciativa fazendeiros locais.

“Estamos tentando salvar o parque Cristalino e as propriedades rurais no entorno, mas não temos brigadistas e equipamentos adequados, como, por exemplo, aeronaves. Aguardamos reforços do Governo de Mato Grosso”, disse a coordenadora da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação (Rede Pró-UC), Ângela Kuczach.

O parque

Cristalino é uma das unidades de conservação mais importantes da Amazônia, com 600 espécies de aves registradas, das 850 existentes em toda a Amazônia brasileira. Dessas 600 espécies, 25 estão oficialmente ameaçadas de extinção. Merece destaque o macaco-aranha-de-cara branca (Ateles marginathus), símbolo do Parque.

Imbróglio judicial

Tudo começou há um mês,  quando o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) decretou a extinção da unidade,  a pedido de uma empresa agropecuária. O Ministério Público, porém, recorreu da decisão, alegando que não havia sido intimado, o que viola o Código de Processo Civil e da Constituição Federal.

A consultora jurídica e de articulação do Observa-MT, Edilene Amaral explica que o Ministério Público de Mato Grosso (MPE-MT) reverteu em parte a ação que deve ter ainda uma decisão final junto aos órgãos superiores de justiça.

“Apesar do ganho jurídico que manteve ainda recorrível a decisão judicial do processo que tenta extinguir o Parque do Cristalino II, o que vemos é que mesmo que irreal, a possibilidade da extinção da UC estimula as ações criminosas de grilagem, desmatamentos e de incêndios florestais na região.”

Vale destacar que a área do Parque Estadual Cristalino I e II pertencia à União e foi doada ao Governo de Mato Grosso quando o parque foi criado a partir de 2000 e 2001, respectivamente.

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