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Mudança climática: seca avança pelo Brasil, que registra 1ª região árida

Mudança climática: seca avança pelo Brasil, que registra 1ª região áridaProcesso está relacionado ao aquecimento global. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasi

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Por André Garcia

Os efeitos das mudanças climáticas criaram a primeira faixa de clima árido no Brasil. Isso significa que a seca deixou de ser um fenômeno ocasional e se firmou como característica permanente de uma área de 5.763 km² no interior da Bahia, criando ali um cenário típico de deserto: baixa umidade e chuva quase inexistente.

Mas a má distribuição das chuvas não se restringe a esta localidade e a situação acende um alerta para todo o País, já que os processos de desertificação podem se acelerar nas próximas décadas, mesmo em regiões onde hoje as condições são mais úmidas, como o Centro-Oeste, o que pode, consequentemente, prejudicar o agronegócio.

É o que mostram pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Por meio da análise de dados coletados entre 1960 e 2020, eles constataram que, em diferentes níveis, quase todo o território está secando.

“Há uma tendência ao aumento da aridez em todo o País, exceto na região Sul. Este fator se deve principalmente ao aumento da evaporação associada com aumento da temperatura – aquecimento global”, diz trecho de nota técnica divulgada pelos órgãos no final do ano passado.

O trabalho, que resultou em um índice de aridez, envolveu a comparação de números levantados junto a estações meteorológicas de diferentes regiões e análise tanto a variação das chuvas quanto a evapotranspiração, ou seja, o processo no qual a água é devolvida à atmosfera por meio da evaporação do solo e da transpiração das plantas.

Avanço da seca

Para ser considerada como árida, uma região precisa apresentar índice de aridez inferior a 0.2. Mas a desertificação não acontece de uma hora para a outra e a seca vem avançando em diferentes níveis sobre o País, sobretudo entre as últimas três décadas.

A conclusão do estudo é que, além do surgimento desta região árida no interior da Bahia, houve aumento consistente da área classificada como semiárida (índice inferior a 0.5), com uma taxa média superior a 75 mil km2 a cada dez anos.

Com relação às áreas sub úmidas secas (índice entre 0.5 e 0.65), além do Nordeste e Norte de Minas Gerais, foram identificadas ocorrências no Mato Grosso do Sul, na bacia do Rio Paraguai, e em uma pequena área no norte do Estado do Rio de Janeiro.

Prejuízo para o agronegócio

Por meio do índice de aridez é possível identificar, localizar ou delimitar regiões com variável déficit de água disponível, condição que pode afetar severamente o uso efetivo da terra para a agropecuária.

Além disso, a aridez favorece a ocorrência de queimadas, o que, de acordo com a pesquisa, associadas ao uso não sustentável do solo podem levar à desertificação em longo prazo.

Em cenário como este, o agronegócio precisará lidar com os efeitos da estiagem, que incluem o aumento no custo da energia e também a diminuição da capacidade de produção e geração de valor.

Amostras do prejuízo causado pela mudança climática já foram dadas aos produtores, principalmente de soja, na safra 2023/2024. Como já mostramos, o setor estima que a produtividade será de, no máximo, 135 milhões de toneladas.

Em decorrência do calor extremo agravado pelo El Niño, o preço da oleaginosa também despencou para o menor patamar nominal desde agosto de 2020, chegando a R$ 121,81 por saca de 60 quilos em Paranaguá.

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