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Produção de carne desproporcional entre os estados é ameaça para a Amazônia

Produção de carne desproporcional entre os estados é ameaça para a AmazôniaApp ajuda a deixar cadeia mais transparente. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Você sabia que 80% da produção nacional de carne fica no país e que mais de 1/3 da carne vendida em São Paulo vem de frigoríficos da Amazônia? Considerando que, junto ao Cerrado, este é o bioma mais afetado pela pecuária, o número é alarmante, uma vez que a desproporcionalidade no cenário de produção e consumo está relacionada a um também desproporcional risco de desmatamento.

“Cada estado tem um padrão de consumo de carne local, mas em todos, quase 25% da carne vem da Amazônia”, afirma o pesquisador Erasmus zu Ermgassen, doutor pela Universidade Católica de Louvain (Bélgica).

Ele é o criador do aplicativo “Do Pasto ao Prato”, que levanta informações sobre a cadeia produtiva da carne informando, por exemplo, se sua produção está ligada ao desmatamento ou ao trabalho escravo. A plataforma, não governamental e sem fins lucrativos, aumenta a transparência na cadeia da carne e apoia o consumo consciente no Brasil e foi utilizada pela Repórter Brasil para revelar que o Carrefour distribui carnes de regiões desmatadas na Amazônia.

“O sistema alimentar tem um impacto enorme no meio ambiente: 90% do desmatamento na região tropical é impulsionado pela agropecuária. 62% das espécies nativas são ameaçadas pela agropecuária e 35% das emissões de gases de efeito estufa estão relacionadas à alimentação”, afirmou recentemente durante apresentação da ferramenta na Faculdade de Saúde da Universidade de São Paulo (USP).

A atividade também soma quase metade dos registros de trabalho análogo à escravidão entre 1995 e 2020 no Brasil e está associada a diversas doenças de causa alimentar, como diabetes, cânceres e problemas cardiovasculares.

“A falta de transparência impede o consumo consciente e diminui a responsabilização das empresas que comercializam estes produtos. Ninguém sabe de onde vêm os produtos que compra”, diz Erasmus.

Ao conectar frigoríficos aos mercados varejistas, o aplicativo verifica desde multas pagas por frigorífico por má higiene ou desrespeito ao bem-estar animal, como revela área de desmatamento na zona de compras do empreendimento e o número de fornecedores autuados por condições ilegais de trabalho.

O App

As informações são fornecidas a partir da inserção do número do selo do produto no aplicativo. Deste modo, é possível obter, para cada frigorífico, uma avaliação da sustentabilidade socioambiental da sua cadeia de produção por meio de emojis.

Desde o lançamento da última versão, em agosto de 2021, o app contabiliza 1466 downloads com 434 usuários ativos. Há 24 estados onde os produtos foram digitalizados por meio do aplicativo e 1773 produtos já foram vinculados a uma loja. O “Do pasto ao prato” está disponível para download gratuito na Apple Store e na Google Play.

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