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Venda de orgânicos cresce 30% e evidencia mercado a ser explorado

Venda de orgânicos cresce 30% e evidencia mercado a ser exploradoSetor ainda precisa de investimentos. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

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Por André Garcia

Entre 2003 e 2017, as vendas de produtos orgânicos no País aumentaram quatro vezes. No ano de 2020, tiveram expansão de 30%, com o movimento de R$ 5,8 bilhões. Há ainda 953 certificações de orgânicos para produtos importados, de um total de 23 países, segundo dados do Mapa.

Os dados são de pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) divulgados neste mês e reforçam o potencial de iniciativas como a Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (Repoama), desenvolvida pelo Instituto Centro de Vida (ICV).

O projeto reúne agricultores de cinco cidades do Norte de Mato Grosso. Um deles é Maria Aparecida, que antes de ganhar a vida com a agricultura, trabalhou em hotéis, laminadoras e serrarias. O que aparecia com a promessa de renda, ela aceitava. Pouco antes de o filho mais novo nascer, no entanto, ela decidiu trabalhar mais para os outros.

Rosângela Cristina está entre os produtores que receberam o certificado. Foto: ICV

Foi aí que investiu parte de seu dinheiro para começar a plantar ainda no seu quintal. Alface, couve, jiló, quiabo, mandioca, abóbora. O que ela produzia era vendido de porta em porta para os vizinhos. Também foi nessa época que ela entrou para a Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Artesãs de Nova Monte Verde (Amuverde).

“Assim que entrei na associação, fui aprendendo o que podia e o que não podia usar. Eu já produzia sem veneno pensando na gente e no que a gente ia comer, mas na associação o pessoal foi incentivando mais e eu decidi entrar de vez no orgânico mesmo.”

Hoje, depois de um processo de cultivo cuidadoso da terra, reunião de documentos e vistorias. Maria Aparecida está entre os produtores da região que receberam o certificado de conformidade orgânica do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O selo, concedido há pouco mais de dois meses, já trouxe aumento na demanda pelos produtos.

Saúde e qualidade de vida

Assim como ela, Silmara decidiu sair da cidade e voltar ao campo para cuidar melhor dos filhos. Na época grávida de gêmeos, ela pensou que no sítio teria mais condições de proporcionar uma vida boa para as crianças, sem as intempéries da rotina da cidade.

“A gente pensava que, se continuássemos naquele rumo, com tanto agrotóxico no mundo, com tanto inseticida, um monte de coisa, onde ia parar nossa saúde? A gente precisa pensar no meio ambiente, porque uma hora o mundo vai cobrar, então todo mundo tem que fazer sua partezinha”, disse.

Maria Aparecida e sua produção agroecológica. Foto: ICV

E ela tem razão. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicados em junho deste ano, mostram que 25% dos alimentos de origem vegetal consumidos no Brasil têm resíduos de agrotóxicos acima do permitido ou sem autorização.

Resistência agroecológica

Segundo a pesquisa da UFGRS e da UTFPR, só 1,28% das áreas de cultivo no Brasil é referente à agricultura orgânica. Para mudar esta realidade, especialistas apontam a necessidade de investimentos no setor, principalmente para o desenvolvimento de tecnologias para produção de sementes, o que é a base do processo agroecológico.

Carla Guindani, da empresa Raízes do Campo, que atua no setor de orgânicos da agricultura familiar, acrescenta ainda a importância do acesso desses produtores a bioinsumos e maquinários adequados. Ela também destaca a mudança de hábitos é necessária para criar uma relação de preservação e de regeneração do meio ambiente.

Além disso, o varejo precisa aumentar o espaço na gôndola para oferecer os produtos agroecológicos para o consumidor e entender que esse segmento tem um valor agregado e que o consumidor está buscando esse tipo de produto.

“O preço sempre é o fator limitante e a gente vai diminuir o preço quando houver o aumento de consumo. E, quando há tecnologias adequadas para produção, diminui o custo da produção, e esses alimentos chegam ao supermercado e ao consumidor com preço mais acessível”, conclui.

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