Por André Garcia
Como já mostrado pelo Gigante 163, as mudanças na temperatura ocasionadas pelo El Niño produzem anomalias climáticas em toda a região tropical do planeta, resultando em três diferentes extremos: seca, inundações e calor intenso. No Brasil, a previsão é que o clima quente atingirá em cheio a região Centro-Oeste, o coração agrícola do país.

Mapa mostra efeitos do El Niño sobre os países latino-americanos. O cinza representa umidade atípica, o amarelo seca atípica e o vermelho calor atípico. Crédito: EIU.
Analistas da Economist Intelligence Unit (EIU), divisão de pesquisa e análise do renomado jornal inglês The Economist, reforçam que o desequilíbrio pode, dentre outros prejuízos, aumentar o risco de incêndios florestais e prejudicar a produção. Grãos básicos e o gado – todos altamente dependentes das chuvas – serão os mais afetados.
Os especialistas também apontaram, em publicação feita na sexta-feira, 21/7, que Norte e Nordeste, importantes produtores de algodão, milho e cana-de-açúcar, provavelmente enfrentarão a seca. Por outro lado, a região Sudeste tende a se beneficiar de chuvas abundantes na primavera e no verão, o que pode impulsionar a produção agrícola.
O The Economist cita os recordes brasileiros obtidos na safra do milho para destacar que os bons índices produtivos registrados neste ano podem não se repetir. A previsão se estende a toda a América Latina, região diretamente afetada pelo fenômeno é responsável por uma parcela crescente dos produtos agrícolas mundiais.
“A colheita deste ano tem sido particularmente abundante e ajudou a compensar a escassez de cultivos da Ucrânia devido à guerra. Uma boa colheita em grande parte do mundo manteve o fluxo de suprimentos e os preços sob controle. O retorno do El Niño pode mudar essa situação.”
Abastecimento global
Extremos associados a fenômenos anteriores causaram estragos na agricultura e em outras indústrias vulneráveis às mudanças nos padrões climáticos. Os efeitos em países produtores como os da América Latina podem ser um problema para o abastecimento global de alimentos.
Segundo os pesquisadores, a Bolívia poderá enfrentar tanto a seca quanto inundações. Já o Caribe, os países da América Central, Colômbia e oeste do México estarão particularmente vulneráveis à seca. Condições mais úmidas, por outro lado, podem trazer alívio a outras áreas, como a região das Pampas na Argentina.
A EIU prevê que a economia do Peru será afetada entre janeiro e maio do próximo ano, quando chuvas intensas ao longo da costa norte podem danificar infraestruturas e reduzir a produção agrícola e pesqueira. Inundações destruiriam canais de irrigação e poderiam trazer gafanhotos, ratos e doenças às regiões agrícolas.
El Niño
Em junho, o fenômeno climático caracterizado pela interação de ventos e correntes no Pacífico com efeitos globais, entrou em sua fase El Niño. Eventos como o que acaba de começar trazem temperaturas mais quentes em todo o mundo e produzem anomalias climáticas específicas em toda a região tropical.
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