Por André Garcia
Na corrida para ampliar e diversificar sua matriz energética, dominada hoje pela energia hidrelétrica, o Brasil vem reforçando sua aposta em investimentos solares e eólicos. O cenário oferece oportunidade para que a cadeia se torne ainda mais limpa, a partir da substituição do óleo mineral pelo óleo vegetal isolante em transformadores elétricos.
Seja qual for a fonte, o equipamento é indispensável para garantir a estabilidade e a segurança energética, pauta que, na Semana Mundial do Meio Ambiente, teve o caráter sustentável reforçado por discursos que apontam o setor como fundamental na construção de um modelo econômico “verde” no país.
Como a maioria das propostas que surgem com o avanço deste mercado, a adoção do óleo vegetal pela indústria energética também se relaciona com o agronegócio. Mestre em Energia e gerente de serviços técnicos para fluidos dielétricos da Cargill, Roberto Inácio da Silva explicou a relação entre os setores em entrevista ao Gigante 163.
“O agronegócio se beneficia primeiramente pelo fornecimento da soja como matéria-prima, aumentando a demanda pela produção. Além disso, as propriedades passam a contar com equipamentos mais seguros, que agridem menos o meio ambiente, têm vida útil prolongada e emitem menos CO2 na sua operação”, contou.
Vale destacar ainda a prevenção de incêndios, já que o produto apresenta ponto de combustão superior a 300 graus Celsius, mais alto que o óleo mineral. Sobre as desvantagens do segundo caso, é possível mencionar a probabilidade de contaminação da água, do solo e do ar.
De acordo com Roberto, atualmente o óleo produzido pela Cargill tem como base a soja mato-grossense, que é processada em uma fábrica em Minas Gerais e segue para a outra fábrica no interior de São Paulo, de onde é vendida para todo Brasil e exportada para toda a América Latina.
A saída ainda é tímida frente ao potencial que o setor apresenta, principalmente considerando o discurso do Governo Federal, que vem prometendo investimentos em uma cadeia descarbonizada.
“A gente já tem por volta de 15% do mercado brasileiro de [óleo] isolante. Então há um potencial muito grande de crescimento no país e no mundo. Embora esta tecnologia não seja recente, já tendo mais de 25 anos, ela ainda é conhecida por poucas pessoas. Então um dos caminhos para esse avanço é difundir mais informações”, avalia.
Em Mato Grosso, a proposta vem caminhando. Segundo Roberto, a concessionária de energia Energisa está em processo de adoção da estratégia. Além disso, um dos maiores clientes da empresa, a Trael Transformadores Elétricos, já aposta no óleo vegetal para seus transformadores.
Com relação aos custos, o especialista chama a atenção para o valor agregado, já que, na comparação “litro por litro” com o óleo mineral, o vegetal ainda é mais caro.
“Ele valoriza a operação. Portanto, em uma análise de longo prazo vemos o benefício econômico. Análises que consideram o custo total da propriedade e a vida útil do equipamento apontam que um transformador que utiliza óleo vegetal garante até 17% de economia em relação ao óleo mineral”, conclui.
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