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Soja brasileira turbina balanços trimestrais, mas lucros ficam no exterior

Soja brasileira turbina balanços trimestrais, mas lucros ficam no exteriorColheita de soja. Foto: Wenderson Araujo/Trilux

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Por André Garcia

Gigantes como a Bunge e ADM, que processam, comercializam e despacham colheitas ao redor do mundo, não podem reclamar do último trimestre. Impulsionadas pela safra recorde de soja brasileira, elas registraram números acima do esperado pelo mercado, com lucro líquido de US$ 622 milhões no primeiro caso e US$ 927 milhões no segundo.

Os balanços, publicados pela Ag Feed, reforçam a previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos de que a produção de soja no Brasil vai crescer 20% este ano, para algo em torno de 156 milhões de toneladas, contra os 120 milhões alcançados em 2022. Mas isso não significa necessariamente que o País vai lucrar.

Para se ter ideia, segundo publicação do portal +Soja, o mercado da oleaginosa no Brasil gerou, apenas no ano agrícola de 2019/2020, uma receita bruta de US$86,9 bilhões, dos quais somente US$31,6 bilhões foram absorvidos por grupos empresariais locais.

Ou seja, apesar de receber subsídios e isenções fiscais no Brasil, quem absorve a maior parcela dos lucros são, principalmente, corporações estadunidenses, europeias e chinesas. E é preciso considerar ainda que, além da desproporcionalidade na divisão de ganhos, o ônus socioambiental é absorvido exclusivamente pelos brasileiros.

Estratégia de controle

Para garantir esta dinâmica pouco justa, grandes corporações estrangeiras se esforçam para expandir a sua dominação dos diferentes segmentos associados à produção da soja, incluindo os mercados de sementes, agrotóxicos, fertilizantes, máquinas agrícolas, processamento, transporte, financiamento e exportação.

Entre as principais estratégias estão os processos de fusão e aquisição de empresas nacionais. O resultado é a redução da participação brasileira na receita gerada e no modelo de governança da produção.

Prejuízo

Este prejuízo socioambiental é gerado pela expansão acelerada da área cultivada, já que o avanço da soja aumenta a pressão sobre os ecossistemas como o Cerrado, hoje o bioma mais ameaçado por este processo no Brasil. Entre 1985 e 2021, foram 8,1 milhões de hectares de novos plantios de soja, área maior que Bélgica e Holanda juntas.

A título de exemplo, os municípios onde houve expansão da soja no Cerrado lideram a devastação. É o caso de Baixa Grande do Ribeiro (PI), onde o avanço do grão n última década foi de 150 mil hectares, enquanto a área desmatada foi de 168 mil hectares.

Por outro lado, as importações da União Europeia de commodities agrícolas, por exemplo, estão relacionadas a um desmatamento de mais de 145 mil hectares de ecossistemas tropicais em 2018. Não à toa, o bloco tenta compensar este histórico com a aplicação da lei antidesmatamento.

Quem perde é o produtor que está aqui e já vê o preço da terra com vegetação nativa subir enquanto a soja passa a ser cultivada em áreas marginais. Além disso, como noticiado por nós, as perdas potenciais decorrentes da devastação, considerando o período de 2006 a 2019, chegam a quase US$1 bilhão no caso da soja e do milho.

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