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No Dia da Pecuária: veja como reduzir efeitos do El Niño no setor

No Dia da Pecuária: veja como reduzir efeitos do El Niño no setorAções para bem-estar reduzem danos. Foto: Valter Campanato/ABr

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Por André Garcia

Não bastasse a forte desvalorização da arroba do boi gordo registrada nos últimos meses, o pecuarista brasileiro também lida com a ameaça de queda na produtividade causada pelo estresse térmico do gado, que se acentua pela ocorrência do El Niño 2023/2024. Redução de pastagem, suscetibilidade a doenças e queda da fertilidade são alguns dos desafios que devem ser superados para garantir melhora nas margens de lucro.

Embora o clima seja incontrolável, ações voltadas ao bem-estar animal podem ser tomadas para ajudar a reverter este cenário. No Dia da Pecuária, celebrado em 14 de outubro, o Gigante 163 conversou com os médicos veterinários Nilton Mesquita e Ana Bezerra, que explicaram que adaptações no sistema de produção, com medidas preventivas apropriadas para o gerenciamento e o planejamento adequados antes do início do aumento da temperatura são fundamentais.

“O produtor tem que se antecipar a esses fatores. Isso não é uma novidade no campo. Quem começou a pensar nisso só agora, já está atrasado. Estamos falando de práticas simples de organização, como sombreamento e disponibilização de pontos de água, que devem ser mensuradas com um ano de antecedência”, diz Nilton, que é gerente de relações institucionais da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).

Evitando prejuízo

Com base em uma propriedade modal com produção média de 30l/vaca em lactação e considerando os custos de produção registrados em 2022, o Núcleo de Inteligência de Mercado da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) estimou redução de produtividade na margem líquida da atividade de até 20% em decorrência do fenômeno. A questão também afeta o gado de corte.

“Quando o ocorre a morte, normalmente é por conta da descompensação respiratória, mas ela já é o caso extremo. O que é mais comum e o que gera mais prejuízo é a baixa na produção. Estudos mostram diminuição de ganho de peso de 70 a 100 gramas por animal por dia, em uma condição extrema”, resume a médica veterinária.

Medidas preventivas

As estratégias para evitar o prejuízo incluem o monitoramento da temperatura e a umidade; proteção do rebanho do vento em caso de frio; deixar as camas secas, porque aumentam a capacidade de resistência em temperaturas baixas; manutenção do rebanho limpo, já que umidade e sujeira reduzem as propriedades isolantes do couro e fornecimento constante de água fresca.

Representante da Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO), de Campo Grande (MS), Ana também destaca a necessidade de sombra natural ou artificial para reduzir a insolação e a temperatura dos bovinos. Desta forma, é possível instalar sistemas de resfriamento, como ventiladores e aspersores de água, ou de aquecimento em confinamentos para manter a temperatura ideal no ambiente.

“Outros recursos emergenciais também podem ser utilizados como colocação de sombrites onde não exista nada de arborização, para que os animais se abriguem do sol. Lembrando que isso é para emergências, já que nas propriedades você pode direcionar esses animais para áreas com uma melhor condição ambiental, com árvores”, explica ela.

Planejamento

A redução pluviométrica no Centro Oeste e parte do Sudeste e a seca prevista para o Nordeste devem prejudicar o desenvolvimento das forrageiras. No último período de El Nino muito forte (2015/16), houve aumento das áreas de pastagem com registro de degradação severa e o valor das sementes subiu cerca de 71%. Por isso o planejamento é a palavra-chave.

“Defendemos que a fazenda tem que ser gerida como uma empresa, com plano estratégico de gestão para evitar esses prejuízos. Não é fácil, mas é mais fácil que perder dinheiro. A orientação para quem já está com o problema é abater o animal ou correr para garantir o sombreamento e uma pastagem melhor”, afirma Mesquita.

Apoio técnico

Para ele, o apoio técnico também é fundamental, especialmente considerando os pequenos produtores, que têm mais dificuldade de acesso às informações. Para tanto, a recomendação é entrar em contato com as representações mais próximas, procurar projetos junto às prefeituras e participar de reuniões sobre a atividade.

“Não adianta ficar sozinho, tem que procurar por informações, buscar as entidades e discutir estas questões. O pecuarista tem que se preparar para maximizar o lucro para que ele possa, inclusive, se manter na cadeia. Ainda há muito o que melhorar, mas a pecuária está aprendendo.”

ILPF

A introdução de árvores em sistemas pecuários é uma opção viável para melhorar o bem-estar animal e manter sua capacidade reprodutiva regular. Uma das alternativas apontadas pela Embrapa Pecuária é a adoção de sistemas integrados, como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).

Além de outros benefícios já mostrados pelo Gigante 163, a estratégia garante sombra e favorece a redução da temperatura corporal do gado. Esse efeito é mais perceptível na primavera e verão, e nos períodos mais quentes do dia.

“Esses projetos são bem interessantes tanto para hipertermia como para hipotermia, porque as árvores servem de abrigo nas duas situações. Há um vasto material disponível sobre isso, então, por meio de informação e tecnologia é que o produtor pode trazer rentabilidade ao seu negócio”, conclui Ana.

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