Por André Garcia
Em Mato Grosso, a estratégia que alia produção de gado e de madeira nobre na mesma área já rende até R$ 4,70 para cada R$ 1 investido. O cálculo considera um Valor Presente Líquido (VPL) de R$ 2.854,53 por hectare ao ano e tem como base o Sistema Bacaeri – BoiTeca, desenvolvido pela Embrapa Agrossilvipastoril.
A partir deste modelo, o pecuarista pode manter o gado na área ao longo da maior parte do ciclo da teca (árvore da conhecida por sua madeira de alta qualidade, usada em móveis finos, construção naval e outras aplicações), que leva até 25 anos para o corte raso. O rebanho é retirado apenas nos primeiros 10 a 18 meses, período que pode ser usado para agricultura, silagem ou recuperação da pastagem.
A sombra das árvores melhora o conforto térmico, reduz o estresse calórico e contribui para maior ganho de peso e desempenho reprodutivo dos animais.
“Embora o lucro principal venha no corte final das árvores, entre o 18º e o 25º ano, a pecuária tem papel essencial na geração de receita nos primeiros ciclos. É isso que torna o sistema viável e atrativo para o produtor”, explica o pesquisador Maurel Behling, da Embrapa Agrossilvipastoril.
Mesmo com custo inicial de aproximadamente R$ 3,2 mil por hectare, o retorno começa a partir do oitavo ano, com receitas vindas da pecuária e dos desbastes. A presença das árvores também melhora a distribuição da renda ao longo do tempo e reduz o risco de depender de um único produto.
Planejamento e manejo especializado
Apesar dos bons indicadores econômicos, a Embrapa alerta que o sucesso do sistema depende do cumprimento rigoroso das recomendações técnicas. É necessário definir espaçamentos adequados, realizar podas e desramas, fazer o controle de pragas e evitar danos às mudas causados pelos animais.
“Não basta plantar teca no pasto e esperar que a renda venha com o tempo. O sistema exige tecnologia, cuidado e disciplina operacional”, afirma Behling.
A Fazenda Bacaeri, em Alta Floresta (MT), foi a principal área de validação do sistema. A propriedade iniciou a integração com teca clonal em 2008 e passou a ser acompanhada pela Embrapa a partir de 2009. O nome do sistema é uma homenagem ao papel pioneiro da fazenda no desenvolvimento da tecnologia.
“O fato de a tecnologia levar o nome da nossa propriedade é um reconhecimento importante. Isso mostra que tomamos decisões corretas e que o trabalho foi bem executado”, afirma o produtor Antônio Passos.
A expansão do sistema está sendo conduzida em parceria com a empresa Teak Resources Company (TRC). Desde o início da parceria com a Embrapa, em 2023, 350 hectares já foram implantados em Mato Grosso e no Pará. A meta é atingir 12.500 hectares em cinco anos, com capacidade atual de plantio de 2.500 ha/ano.
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