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Entenda como o calor deixa a seca mais forte e longa

Entenda como o calor deixa a seca mais forte e longaSecas estão mais intensas, longas e frequentes. Foto: Agência Brasil

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A ciência acaba de calcular um fenômeno conhecido de todo produtor: não é só a falta de chuva que intensifica as secas, mas também o calor. É o que mostra um novo estudo publicado esta semana na revista Nature. Os pesquisadores coletaram informações de todo o planeta e comprovaram algo que os agricultores brasileiros já estão sentindo na prática: como o tempo está mais quente, a umidade do solo evapora, intensificando a seca. O estudo constatou que, além de mais intensas, as secas estão mais longas e frequentes por causa da evaporação da umidade do solo.

Essa capacidade da atmosfera de absorver essa umidade – chamada de Demanda Evaporativa Atmosférica (AED, em inglês), pelos cientistas – tem um papel cada vez maior. O estudo mostra que a AED aumentou a gravidade da seca em uma média de 40% no mundo todo. Isso significa que, mesmo em lugares que costumavam ser úmidos, a seca está se tornando um grande problema.

Nos últimos anos, a situação piorou bastante. Entre 2018 e 2022, as áreas afetadas pela seca cresceram 74% em comparação com o período de 1981 a 2017. Desse aumento, impressionantes 58% foram causados diretamente pelo processo de evaporação. O ano de 2022 foi o pior já registrado, com 30% da área terrestre global sofrendo com secas de moderadas a extremas, e 42% dessas secas foram por causa do aumento da evaporação.

Os pesquisadores usaram dados de chuva muito precisos e um método avançado para calcular a evaporação, o que garantiu a confiabilidade dos resultados. Eles alertam que, com o aquecimento global, as secas devem ficar ainda mais frequentes e fortes, trazendo sérios problemas para a agricultura, o meio ambiente e a disponibilidade de água. Por isso, é urgente pensar em como nos adaptar a essa nova realidade.

Adaptação é o caminho

Diante do cenário de secas cada vez mais intensas e frequentes, a busca por soluções eficazes de adaptação é crucial. Uma das estratégias mais promissoras é a integração da pecuária com a silvicultura, conhecida como Sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF),. Essa abordagem não só otimiza o uso da terra, mas também oferece um mecanismo natural para combater os efeitos da evaporação excessiva, um dos principais fatores que intensificam a seca.

Nestes sistemas, as árvores plantadas em áreas de pastagem criam um ambiente mais fresco e sombrio. Essa sombra é fundamental para reduzir a capacidade do ar de “puxar” umidade do solo e das plantas. Com menos exposição direta ao sol e temperaturas mais amenas, a taxa de evaporação da água do solo diminui significativamente. Isso significa que a umidade permanece disponível por mais tempo para as pastagens e para o gado, mesmo em períodos de estiagem.

Além de conservar a umidade do solo, esses sistemas podem melhorar a qualidade do solo, aumentar a biodiversidade, fornecer forragem adicional para os animais e até mesmo gerar produtos madeireiros ou não madeireiros. Para o gado, a sombra das árvores oferece conforto térmico, reduzindo o estresse calórico e melhorando o bem-estar e a produtividade dos animais.

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