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Bloqueio de nuvens, El Niño e mudança climática acentuam calor

Bloqueio de nuvens, El Niño e mudança climática acentuam calorEsta é a oitava onda de calor registrada em 2023. Foto: Agência Brasil

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A onda de calor que atinge principalmente o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil é reforçada por dois fatores já conhecidos pelo leitor do Gigante 163: o El Niño e as mudanças climáticas. Mas eles não são os únicos vilões desta história. Meteorologistas apontam que o cenário também conta com um bloqueio de pressão atmosférica, o que impede a chegada de frentes frias a estas regiões.

Isso tem ocorrido justamente em uma época do ano em que, normalmente, a estação chuvosa já está estabelecida e em que as nuvens funcionam como uma espécie de controle das temperaturas. É o que explica a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Anete Fernandes, ao destacar que a ausência dessa defesa potencializa os efeitos do calor.

“Quando há essa condição de baixa superfície e não tem as nuvens, isso potencializa ainda mais o aquecimento da atmosfera”, analisou.

Com temperaturas até 5ºC acima da média, o país vive a oitava onda do tipo de 2023, e está sob aviso até a próxima sexta-feira, 17/11. Como já mostrado pelo Gigante 163, a situação tende a persistir por mais tempo no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Centro-Norte do Paraná.

E, segundo explicou Anete à Agência Brasil, o fenômeno pode voltar a ocorrer durante a estação chuvosa.

“Se tivermos o veranico que ocorre durante período chuvoso, teremos temperaturas elevadas, não necessariamente configurando a onda de calor. Como estamos em ano de El Niño, e a irregularidade na estação chuvosa é uma característica, podemos, sim, ter outras ondas de calor. Entretanto, no momento não há perspectiva de uma outra tão cedo”, completou.

Em entrevista publicada nesta terça-feira, 14/11 pela Folha de São Paulo, o meteorologista Marcelo Seluchi, do Cemaden, do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, explicou a extensão e a duração da zona de alta pressão retroalimentam o calor e a permanência do ar seco.

“A energia do sol é consumida em duas coisas: aumentar a temperatura e evaporar água do solo. Com um solo pouco úmido, porque ainda não estamos na estação chuvosa, a maior parte vai para a temperatura”, disse.

Seluchi, que coordena a área de operações e modelagem do centro, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, se refere ao fato de a primavera ainda ser uma estação de transição, antes da chegada do verão, mais chuvoso.

El Niño

Caracterizado pelo aquecimento das águas do Pacífico Equatorial, o El Niño também afeta a circulação de massas de ar, intensificando a permanência de ar quente e seco em parte do país. Logo, sem chuva, também não há o alívio momentâneo das temperaturas.

Assim, o papel do El Niño é justamente reforçar o bloqueio com a mudança de correntes de ar, a partir do aquecimento das águas que também altera a circulação na atmosfera, o que ao contrário do Centro-Oeste, mantém frentes frias estacionadas na região Sul. Isso ajuda a explicar a grande quantidade de chuvas na região.

Mudanças Climáticas

Segundo especialistas, a frequência de eventos extremos aponta o rastro de mudanças climáticas na intensidade de chuvas e do calor. De acordo com o meteorologista Guilherme Borges, da Climatempo, os indícios de disso já estão comprovados.

“Desde 1950 vivemos um ciclo de aquecimento potencializado pelas emissões de gases de efeito estufa.”

Esse cálculo, segundo Micael Amore Cecchini, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, é feito por meio dos estudos de atribuição.

“Se formos medir só a temperatura, não conseguimos separar o joio do trigo. Vamos mudando os modelos e tiramos, por exemplo, o CO2 da atmosfera, ou cobrimos o mundo de cidades. Nesse sentido, os estudos já mostram que teríamos uma época ‘mais fria’ na média.”

Assim, um planeta mais aquecido tende a ver efeitos mais acentuados de fenômenos atmosféricos, como o El Niño, ou mesmo o La Niña, que é marcado pela situação contrária.

“É como uma onda que vai para cima e para baixo. As mudanças climáticas aumentam os extremos dessa onda”, conclui Cecchini.

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