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Calorão? Saiba que a Terra ficou 1,3 °C mais quente no último ano

Calorão? Saiba que a Terra ficou 1,3 °C mais quente no último anoImpactos são mais fortes entre os países mais pobres. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Em um ano a temperatura global aumentou 1,32°C em comparação aos índices da era pré-industrial (1850-1900), segundo cientistas da organização americada Climate Central. Um estudo publicado na última semana mostra que a alta é impulsionada principalmente pelo excesso de gases de efeito estufa (GEE) liberados por ações humanas, como a queima de combustíveis fósseis.

O número recorde tirou a liderança do período de outubro de 2015 a setembro de 2016, quando a temperatura ficou 1,29 °C mais quente.

“Enquanto a humanidade continuar a queimar carvão, petróleo e gás natural, as temperaturas aumentarão e os impactos vão acelerar e se espalhar. A análise ressalta como os esforços para reduzir as emissões e limitar o aquecimento beneficiarão as populações em todo o mundo”, diz o artigo.

A publicação também reforça o alerta feito recentemente pelo o cientista brasileiro Paulo Artaxo, que prevê que o prazo para diminuir as emissões e evitar um colapso é de apenas quatro ou cinco anos.

“A janela de oportunidades para evitarmos uma catástrofe climática no planeta está se fechando nesta década. Então, o que faremos agora é absolutamente estratégico. Precisamos atuar firmemente para acabar com essa ameaça que traz prejuízos socioeconômicos enormes, principalmente para a população de baixa renda”, disse em entrevista ao Gigante 163.

De acordo com o Observatório do Clima, o aumento da temperatura também teve influência da redução das emissões de gases poluentes de aerossóis que causam resfriamento. Além disso, os pesquisadores também constataram que o impacto do El Niño, fenômeno oceânico-climático, ainda é menor do que o dos gases de efeito estufa.

Os pesquisadores utilizaram o Índice de Mudanças Climáticas (CSI, na sigla em inglês) para quantificar como as mudanças climáticas alteraram a probabilidade de haver calor extremo. De novembro de 2022 a abril de 2023, por exemplo, 58% da população mundial foi exposta a 10 ou mais dias com altas temperaturas com um nível de CSI 3, o que significa que as ondas de calor desses dias foram pelo menos três vezes mais prováveis devido às alterações climáticas.

O percentual subiu para 82% dos habitantes entre maio e outubro. Durante todos os 12 meses, 90% da população (7,3 bilhões) enfrentaram pelo menos 10 dias de calor extremo e 73% (5,8 bilhões) vivenciaram mais de um mês. A Jamaica é um exemplo de país que apresentou um CSI nos últimos 12 meses no valor de 4,5 de um máximo de cinco.

Impactos entre os países

Embora os impactos estejam fortes nos países mais pobres, foi concluído que há um aceleramento dos efeitos nas grandes economias. Entre novembro e abril, a Arábia Saudita (1,2), a Indonésia (1,9) e o México (1,2) foram os únicos países do G20 a terem um CSI médio superior a 1. No segundo período, de maio a outubro, Índia, Itália, Japão, Brasil, França e Turquia se juntaram ao trio. Com exceção da Alemanha, Rússia, Canadá e Argentina, os outros países também tiveram algum aumento no CSI.

O estudo ainda mostra que a média do CSI de alguns estados e cidades foi elevada, apesar da média nacional ser relativamente baixa. Um caso é o Brasil, que apresentou uma média de 1,4 de maio a outubro, mas possui 14 estados com média maior no mesmo período: Amapá (4,6), Pará (4), Amazonas (3,7), Roraima (3,7), Ceará (3,2), Acre (2,7), Rondônia (2,6), Rio Grande do Norte (2,5), Pernambuco (2,1), Alagoas (1,9), Paraíba (1,8), Sergipe (1,8), Bahia (1,7), Mato Grosso (1,5).

Quando a lupa é colocada nas grandes cidades, Manaus (AM) aparece com CSI médio no valor de 5. A capital do Amazonas está na relação das grandes cidades que tiveram ondas de calor de cinco dias ou mais. As 10 cidades que tiveram as ondas de calor mais longas durante os 12 meses também apresentaram CSI médio no valor de 5.

Crise mundial

Nos Estados Unidos, foram registrados 24 eventos climáticos extremos que mataram pelo menos 383 pessoas e geraram perdas financeiras superiores a US$ 67 bilhões de dólares. A Argentina teve uma redução do PIB estimada em 3% por causa de uma seca, o Amazonas secou rios volumosos, o Canal do Panamá, que opera cerca de 5% do comércio global, teve a navegação comercial interrompida por causa de uma seca prolongada.

O planeta também tem sido afetado por ciclones, tufões e tempestades Em setembro, inundações destruíram terras agrícolas e deslocaram quase 26 mil pessoas – a maioria mulheres e crianças – no Gana, país localizado na África Ocidental. No Chifre da África, o calor tem contribuído para a insegurança alimentar aguda de mais de 23 milhões de pessoas e para o deslocamento de 2,7 milhões de habitantes. O Canadá teve que evacuar 1 a cada 200 pessoas por causa dos incêndios florestais intensificados pelas mudanças climáticas. Na Itália, os hospitais não deram conta de atender pessoas que passavam mal por causa da temperatura que ultrapassou 40 °C em agosto e setembro.

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