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Dia da Árvore: símbolos de biomas devastados voltam a florescer

Dia da Árvore: símbolos de biomas devastados voltam a florescerProjetos no Centro Oeste vem garantindo sobrevivência de três biomas. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

Baru e Ipê no Cerrado, Açaí e Tucumã na Amazônia e Aroeira e Angico no Pantanal. Ameaçadas por taxas recordes de desmatamento e queimadas registradas no Brasil nos últimos anos, as espécies características destes biomas voltam a proliferar, reforçando sua inquestionável conexão com o ciclo que garante a existência no planeta: vida, morte e regeneração.

Após um 2022 com 2,05 milhões de hectares derrubados e outros 16,3 milhões queimados, segundo o Mapbiomas, chegamos a este 21 de setembro, Dia da Árvore, com mais esperança. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, quer atrair empresas para reflorestar áreas degradadas. Startups também mostram interesse no setor e o agronegócio já aposta nas árvores como estratégia de ganho.

Mas, se agora é possível pensar em lucro, é porque alguns projetos e iniciativas pessoais ajudaram e continuam ajudando a manter os ecossistemas brasileiros em pé. Para celebrar a data, o Gigante 163 traz algumas histórias do Centro Oeste.

Virada Ambiental

É o caso do projeto Virada Ambiental, que, com parceria e boa vontade garantiu o reflorestamento de mais de 1.600 hectares de Cerrado. A área plantada é maior que a de capitais como São Paulo (PI) ou Teresina (PI). Só no estado de Goiás, onde foi idealizado pela Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG), foram mais de 1 milhão de mudas semeadas nos últimos quatro anos.

Trabalho se estende ao longo de todo ano. Foto: Arquivo pessoal

À reportagem, o coordenador da Virada Ambiental, Emiliano Lobo Godoi explica que o trabalho é focado na recuperação de bacias de captação para abastecimento público de água. Como segunda opção, vêm as Áreas de Preservação Permanente (APPs).

“A escolha do Cerrado é estratégica, porque a situação do bioma é preocupante e tudo que temos visto sobre ele é negativo. Então esta é uma possibilidade de revertermos isso, por meio de um projeto que tem um viés de política pública de preservação, mais do que simplesmente de plantio de árvores”, disse.

O plantio de espécies como Ipê, Jacarandá, Aroeira e o Jatobá serve como pano de fundo para a educação ambiental, já que, para além da distribuição de mudas, há capacitações mensais oferecidas aos gestores sobre políticas públicas voltadas ao setor.

“Tratamos sobre licenciamento ambiental, manejo, dentre outros. Há um viés de educação ambiental que vai muito além do plantio das mudas”, destaca o professor da UFG.

Uma mulher, 4 milhões de árvores

Artemizia Moita

Há mais de 20 anos trabalhando pela sobrevivência da floresta por meio da recuperação de áreas arruinadas pela monocultura e agropecuária, a bióloga Artemizia Moita já plantou mais de quatro milhões de árvores pelo Brasil. O cálculo considera uma média de 3.800 árvores por hectare, distribuídas em 879 hectares. Centenas deles estão localizados em Mato Grosso, entre municípios como Nova Xavantina, Canarana e diversos outros espalhados pelas regiões do vale do Araguaia e do Xingu.

“Costumo brincar que, mesmo se eu quisesse, não teria como fugir dessa área. Hoje observo resultados positivos e surpreendentes. Temos árvores que alcançam de 10 a 15 metros de altura em florestas já estabilizadas”, conta.

Os números, de acordo com a bióloga nascida no Pará, só são possíveis graças à muvuca, técnica indígena baseada na mistura de sementes de espécies nativas. Aliada às espécies agrícolas utilizadas na adubação verde e aos substratos adequados, a estratégia segue a lógica de sucessão florestal e oferece uma forma mais barata e eficiente de recompor a vegetação.

“Para você ter uma ideia, trabalhamos com cerca de 120 espécies diferentes entre categorias primárias, secundárias e clímax. As características da muvuca também eliminam uma das principais barreiras da restauração: a gramínea, que só fica atrás do pisoteamento do gado.”

Vida após o fogo

Recuperação da Serra do Amolar. Foto: IHP/ Divulgação

Já no Pantanal, onde 4 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo há três anos, o bioma foi se restabelecendo graças a iniciativas como o Projeto do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que garantiu o plantio de milhares de mudas na região da Serra do Amolar (MS). Estão sendo recuperados, no total, 30 hectares na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal. Em 15 hectares serão plantadas 25 mil mudas, e nos outros 15, a recuperação será por meio de regeneração natural.

Todas as mudas de plantas como angico, ipê roxo, ipê branco, paratudo, manduvi, jacarandá, aroeira, cambará foram produzidas no viveiro da RPPN Acurizal e no Instituto das Águas da Serra da Bodoquena (IASB). Quase 70% das áreas de proteção viraram cinzas na Serra do Amolar. A primeira fase do projeto, que era o plantio, foi finalizada. Agora, os brigadistas vão acompanhar as áreas reflorestadas durante 15 meses.

“As formigas são um fator a mais de preocupação nas áreas com esse ambiente degradado. A primeira vez que a gente coloca uma muda lá nova, elas vão atrás de alimento, acabam cortando essas mudas. A gente só precisa controlar nesse período inicial em que as mudas ainda não tiveram pegamento de raiz, ainda têm poucas folhas, folhas jovens. A partir do momento que essas mudas têm folhas suficientes para fazerem fotossíntese, está tudo bem”, explicou a bióloga da instituição, Luciana Zequim.

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